A edição 348 da Revista Super Interessante traz, estampada em sua capa, aquilo que TODAS as agências de Marketing e profissionais medíocres de marketing digital não queriam que chegasse aos ouvidos dos seus clientes: O FACEBOOK É UMA FARSA! Com o título "O Lado Negro do Facebook" a reportagem mostra que, de acordo com uma pesquisa, realizada por estudiosos das universidades de Michigan e Leuvem (Bélgica), quanto mais as pessoas passam tempo no Facebook, mais se sentem infelizes.
A mais pura realidade: meninos e meninas lutam, desesperadamente, por atenção... Vale tudo para ser notado. Vale ficar nua, vale mendigar "likes", vale gravar cenas de sexo anônimas e divulgar... Vale tudo por um like... Que valores estamos permitindo que o sistema venda para nossos jovens? Como a erosão da família (não importa qual é o modelo de família que você apoia) e dos valores estão transformando nossa sociedade em uma Idiocracia cada vez mais grosseira e insólita? Só o tempo dirá...
O Facebook Manipula Você!
O Facebook define a sequência de informações que você vê na sua timeline, usando um critério secreto que não revela a ninguém. No ano passado, o Facebook realizou uma EXPERIÊNCIA SECRETA com 600 mil usuários, manipulando suas timelines para verificar como isso iria alterar o humor dessas pessoas. SIM, VOCÊ PODE TER SIDO UMA COBAIA!
Os cientistas modificaram o algoritmo de usuários escolhidos de forma aleatória para que mostrassem conteúdo mais positivo ou negativo. E, depois, analisavam o conteúdo postado pelos próprios usuários. A ideia era entender se o que vemos em redes sociais afetam a forma com que nos sentimos. Em outras palavras, se os sentimentos publicados no Facebook são contagiosos.
O resultado? Sim, eles podem manipular emoções de usuários - de uma forma positiva ou negativa - com pequenas mudanças no algoritmo do Facebook.
E o que é pior: os testes não foram feitos APENAS UMA VEZ! Nada é SIMPLESMENTE EXPERIMENTAL!
O Facebook está consumindo seu bem mais precioso: O TEMPO!
Segundo a pesquisa "Digital, Social and Mobile 2015" da We Are Social, os BRASILEIROS passam, em média, QUASE 4 HORAS nas redes sociais, diariamente. Estes mesmos brasileiros, quando perguntados sobre porque suas vidas não avançam, porque não fazem aquele curso de Inglês, porque não terminam a faculdade, porque não fazem uma pós-graduação ou MBA, respondem que... NÃO TEM TEMPO!
Dica: fique 90 DIAS (apenas) sem acessar o Facebook e descubra o quanto você é capaz de realizar com a quantidade ENORME de tempo que você vai conseguir neste período!
(OBS: Acredito que 99% das pessoas aqui não conseguirão, pois já estão viciadas no Facebook, como qualquer viciado em drogas...
O Facebook está prejudicando nossas relações!
Quem nunca se desentendeu com um amigo, um parente ou um conhecido através das redes sociais?
Nossa vida, mediada pelas redes sociais, tem se tornado traumática e excessiva. Estamos nos tornando reativos, narcisistas e incapazes de lidar, de forma respeitosa e digna, com as diferenças de opinião. Vivemos tempos de (In)Comunicação. Temos várias ferramentas de comunicação, mas não conseguimos manter diálogos. Nossa comunicação é deficiente, fraca, superficial. Estamos transformando a internet na nova televisão: A interação está morrendo! Estamos reagindo como o Cachorro de Pavlov, salivando a cada nova postagem, em contínuo reflexo condicionado, e dando nossos likes, mas sem que isso tenha um sentido. Estamos no piloto automático, e nem nos demos conta.
Graças à forma superficial como o Facebook "resignificou" a palavra "amigo" em nosso idioma, estamos permitindo que nossas relações se tornem rasas, superficiais, insípidas.
Ninguém se importa mais! As relações humanas nesse nosso maravilhoso mundo moderno são pautadas no individualismo e na perda do conceito de coletividade.
O Facebook já chegou a ser apontado como uma das maiores causas de divórcio nos EUA. Eu não concordo 100% com esta pesquisa, mas não podemos discordar do fato de que, certamente, todos nós já testemunhamos casos de brigas conjugais, términos de relacionamentos e outros problemas atribuídos às redes sociais, não é verdade (desde a época do Orkut, inclusive...)
Então, a culpa de tudo que nos tornamos é do Facebook?
Não. Definitivamente, o Facebook tem uma boa parte da culpa, mas, no final, ele é apenas uma vitrine. Uma ferramenta. Um espelho que nos mostra, de forma fria e explícita, no que nos tornamos enquanto sociedade: Falhamos. Miseravelmente!
Ainda há tempo. Desintoxique-se. Desligue as notificações. Viva uma vida DE VERDADE, e não apenas para mostrar para gente que você não gosta, algo que você não é, consumindo coisas das quais você não precisa, com um dinheiro que você não tem. Entenda que tudo isso é uma grande ilusão. Ninguém é tão feliz quanto quer fazer crer através das redes sociais.
Parece exagerado. Parece fantasioso. Parece ridículo. MAS É REAL! TODOS NÓS FAZEMOS ISSO O TEMPO TODO! Postamos fotos do que comemos, de onde estamos, dos nossos hábitos, das pessoas que nos cercam, das nossas preferências em diversos temas da vida… E depois, reclamamos que estamos perdendo nossa privacidade! Nós estamos nos tornando viciados na aprovação alheia.
Reflitam e entendam, definitivamente: A vida nas redes sociais É UMA FARSA. Uma encenação, criada diariamente, por pessoas que precisam desesperadamente de atenção, pessoas que estão carentes de contato humano, de uma ligação. Pessoas precisam de pessoas. Pessoas precisam de contato. Pessoas precisam de HUMANIDADE!
Leia mais: http://forum.antinovaordemmundial.com/Topico-o-lado-negro-do-facebook-na-capa-da-super-interessante#ixzz3eUVStWih
segunda-feira, 29 de junho de 2015
terça-feira, 9 de junho de 2015
A animalização do homem em Vidas Secas
4. A animalização do homem em Vidas
Secas
Embora não se trate de temática
inédita, a análise da "animalização do homem" [11] em Vidas
Secas não se encontra, a nosso ver, inteiramente esgotada, mormente se
considerarmos as suas possíveis relações com o Direito. Nesse sentido, o exame
dessa questão em face da dignidade da pessoa humana, o qual pretendemos
concretizar, pode conduzir-nos a conclusões e interações ainda não pensadas,
hábeis, por isso, a demonstrar a riqueza dos escritos sob enfoque.
Mas o que seria essa animalização do
homem, tema tão correntemente atribuído à obra em referência? Do seu
significado, constante dos dicionários da língua portuguesa, já se pode ter uma
boa idéia do sentido pelo qual o vocábulo vem sendo utilizado. Do tradicional
Aurélio, vê-se que o verbo é sinônimo de tornar bruto, embrutecer, bestializar. Da Encyclopedia
e Diccionario Internacional,de W.M. Jackson (Inc. Editores, Rio de
Janeiro), citada por Rogério Lacaz-Ruiz [12], em artigo
específico sobre o tema, o verbete animalisar(sic) possui a
acepção de "Reduzir aos instintos, aos apetites, aos gostos do
animal." De se dizer, dessa forma, que o homem animalizado é
aquele que age instintivamente apenas, ou, coloquialmente, "de
impulso", sem qualquer racionalização sobre os seus atos. A animalização
é, pois, o embrutecimento, é o retorno à condição de animal.
Em Vidas Secas, são vários
os exemplos dessa verdadeira bestialização do ser humano. De início, basta
rememorar que durante toda a narrativa, são pouquíssimos os diálogos entre os
integrantes da família. Ao invés de conversas, a comunicação entre eles era
efetivada, sobretudo, por meio de gestos e sons guturais. No capítulo primeiro,
é bastante ilustrativa a seguinte passagem, vivenciada por sinha Vitória: "sinha
Vitória estirou o beiço indicando vagamente uma direção e afirmou com sons
guturais que estavam perto" [13]. Mais a frente,
ainda no primeiro capítulo, outro bom exemplo pode ser retirado:
Resolvera de supetão aproveitá-lo como
alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não
podia deixa de ser mudo. Ordinariamente a família falava pouco. E depois
daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O
louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a
cachorra. [14]
Aqui, a sutiliza da crítica do autor
alagoano chega a ser genial: o papagaio da família somente imitava os latidos
da cachorra Baleia, pois esse era o único som regularmente ouvido na casa; a
comunicação, como já se disse, era extremamente escassa entre Fabiano, sinhá
Vitória e os dois meninos.
Noutro momento do livro, também
"protagonizado" por sinha Vitória, a animalização ainda é mais
descarada. Nessa ocasião, a personagem, com o intuito de se alimentar, lambe o
sangue de preá que ficara retido no focinho da cachorra Baleia, após o
abatimento, por esta, do roedor: "Levantaram-se todos gritando, o
menino mais velho esfregou as pálpebras, afastando pedaços de sono. Sinha
Vitória beijava o focinho de Baleia, e como o focinho estava ensangüentado,
lambia o sangue e tirava proveito do beijo." [15]A
redução aos instintos, da qual se fez referência acima, é bastante evidenciada
nesse caso.
Mas é com Fabiano, o protagonista
de Vidas Secas, que a bestialização ressai mais explícita. No capítulo
segundo, como visto, a própria personagem se caracteriza como um animal: "Você
é bicho, Fabiano. Isso para ele era motivo de orgulho. Sim, senhor, um bicho,
capaz de vencer dificuldades" [16]. Já noutros
trechos, ele é equiparado a animais: "O corpo do vaqueiro derreava-se,
as pernas faziam dois arcos, os braços moviam-se desengonçados. Parecia um
macaco" [17]. Ainda:"Vivia longe dos
homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não
sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a
ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro
entendia..." [18], e "Era um desgraçado,
era como um cachorro, só recebia ossos" [19].
Em contraste, mas como mais uma nítida
evidência da animalização do homem, a cadela Baleia é claramente humanizada
durante algumas passagens: "Quis latir, expressar oposição a tudo
aquilo, mas percebeu que não convenceria ninguém e encolheu-se, baixou a cauda,
resignou-se ao capricho dos seus donos. A opinião dos meninos assemelhava-se à
dela [20]" e "Ela era como uma pessoa da
família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se
diferençavam..." [21]"Defronte do carro de
bois, faltou-lhe a perna traseira. E, perdendo muito sangue, andou como gente,
em dois pés, arrastando com dificuldade a parte posterior do corpo [22]"Ao
retratar Baleia como um membro da família de retirantes, dotada, diversamente
dos demais, de uma série de atitudes humanas (como a demonstração de opinião e
o andar com apenas duas pernas), Graciliano somente reforça essa animalização
do homem, eis que coloca, em um mesmo nível, o animal de estimação da família e
a própria família. A humanização de Baleia não representa, assim, uma assunção
de consciência por sua parte ou uma elevação da sua condição animal. Significa,
lado outro, que ela estava no mesmo nível de seus "donos",
verdadeiros animais em Vidas Secas.
Que os familiares de Fabiano, e ele
próprio, são bestializados, reduzidos aos seus instintos, na obra de
Graciliano, entende-se, neste momento, já se tratar de uma clara evidência. A
análise da animalização não se completa, todavia, se não se perquiri por sua
razão. O que, afinal, isso quer significar? O que o autor pretendeu dizer ao
fazer tal crítica? A intenção, a nosso ver, foi, por intermédio de uma
exposição escancarada da conseqüência (a animalização), lançar luzes sobre a
respectiva causa (a forte exclusão social desse povo), realizando uma dura e
inteligente crítica social. A "animalização do homem" em Vidas
Secas não é outra coisa senão fruto da intensa exclusão social
vivenciada pelos retirantes nordestinos nela retratados (na obra).
Colocados em condições tão extremas de
vida, Fabiano e sua família precisam, antes de qualquer outra coisa,
preocupar-se em sobreviver. Simplesmente existir, antes de qualquer outra
coisa. Como tal, ante a realidade por eles vivenciada, era tarefa extremamente
difícil, a atenção a atitudes próprias do ser humano, como o planejar o futuro,
o interagir com os demais homens, o gostar/amar alguém, o constituir família, o
pensar sobre qual é profissão que lhe completa, o defender uma ideologia e o
próprio o refletir sobre sua posição na sociedade ficam relegadas a um segundo
plano (para não dizer a um terceiro, dado o elevado distanciamento), muito
atrás do sobreviver. De fato, não há como agir racionalmente – que é o que
diferencia o homem dos demais animais – se não se tem, antes, condições mínimas
de subsistência. O homem precisa, anteriormente a qualquer outra coisa, atender
as suas necessidades fisiológicas. Manter-se de pé, figurativamente. Por mais
que se difira dos demais animais, uma vez que é racional, o homem é um ser vivo
como todos os outros e, nessa condição, não prescinde do atendimento a
determinadas necessidades para subsistir. Se não as observa, o homem fica
estancado ali, na condição de mero animal, agindo instintivamente em busca de
meios para sobreviver. O homem socialmente excluído, assim, que não tem o
mínimo para sobreviver (leia-se comida e água), não consegue sair da condição
de animal. E é por isso que se pode dizer que o homem só pode ser homem (no
sentido antropológico e social da palavra) se ele não tem problemas sendo um
animal (ou seja, atende às necessidades físicas de sobrevivência).
Aqui reside a principal crítica de
Graciliano. Por meio dessa "animalização do homem" o autor demonstra
como é extrema a exclusão social dos retirantes. Não se trata, apenas, da
classe excluída, à margem, que não detém, temporariamente, ingerência sobre os
rumos da comunidade/sociedade da qual é parte integrante. Tampouco de uma
simplesmente menos favorecida, que não tem acesso a alguns serviços públicos,
mas que, ainda assim, possui condições de viver. Trata-se de um povo que não
tem sequer como manter-se de pé, eis que sequer possuem o que comer. E não
tendo o que comer, eles não podem fazer mais nada, inclusive, agir como homens
que são. Não podem, assim, lutar para sair dessa condição, brigar pelos seus
direitos, questionar a sua posição e toda a estrutura na qual estão
inseridos [23]. A exclusão é tamanha, quando o homem é
animalizado, que ele não tem quaisquer meios para tentar sair dessa
condição. É essa, pois, a crítica mais veemente em Vidas Secas: se ao
homem não são dadas condições mínimas de subsistência ele sequer pode agir como
homem; fica relegado à condição de animal.
A animalização do homem e a dignidade da pessoa humana
Ante as considerações realizadas na
seção anterior, outra relação, entre Literatura e Direito, não seria mais
oportuna em Vidas Secas que aquela existente entre a
"animalização do homem" e a dignidade da pessoa humana. Seja como for
tomada, como direito fundamental e/ou humano, princípio ou valor
fundante/estruturante do sistema jurídico, trata-se de mandamento jurídico de
extrema relevância, senão o mais importante. Conforme observa a doutrina
especializada, a exemplo do Min. Gilmar Ferreira Mendes [24], a
dignidade da pessoa humana está presente nos mais diversos textos jurídicos
ocidentais, principalmente naqueles de status constitucional, geralmente nos
seus preâmbulos. No Brasil, encontra-se prevista logo no art. 1º da sua
Constituição, como próprio fundamento do Estado que acabara de surgir.
Para muitos [25], entre
estudiosos e aplicadores do direito, cuida-se de direito/princípio/valor [26] bastante
criticável, eis que, de tão absoluto e geral (como é costumeiramente
qualificado), por vezes acaba desprovido de qualquer conteúdo, principalmente
quando levado a uma situação concreta – o que coloca em cheque a sua própria
efetividade (considerado como norma jurídica). Mas é provavelmente em razão
disso, como nota o acima mencionado autor, que se tem feito um tão grande
esforço, tanto em terras brasileiras, quanto internacionais, em fazer aplicável
a o preceito que traz inserto em seu bojo (a dignidade da pessoa humana).
Mas o que é esse verdadeiro fundamento
da República Federativa do Brasil? Em termos melhores: o que diz esse
direito/princípio/valor? Que garantias traz? Em poucas palavras, pode-se dizer
que a dignidade da pessoa humana, peça estruturante do sistema jurídico
brasileiro, é que concede unidade aos direitos e garantias
fundamentais, sendo inerente às personalidades humanas. Afasta, ademais, a
prevalência de concepções transpersonalistas de Estado sobre as liberdades
individuais [27]. Segundo Alexandre de Moraes, que nos oferece
conceituação bastante completa:
[...] é um valor espiritual e moral
inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação
consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao
respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável
que todo estatuto jurídico deve assegurar, de modo que, somente
excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos
fundamentais, mas sempre sem menos prezar a necessária estima que merecem todas
as pessoas quanto seres humanos [...] [28].
É, em suma, direito, princípio ou valor
pelo (s) qual (is) é assegurada, a toda pessoa humana, a possibilidade de sê-la
em toda sua plenitude. Respeitar a dignidade da pessoa humana é, pois,
respeitar a natureza do homem, com suas necessidades, questionamentos,
angústias e anseios, sem impor quaisquer limitações injustificadas.
Dessas considerações, percebe-se, com
nitidez, o imenso valor jurídico da obra em questão: Vidas Secas traz,
consigo, por meio da descrição da interação do retirante nordestino com outros
integrantes da Sociedade e com a terra, em tempos de extrema seca, uma clara e
lúcida definição da dignidade da pessoa humana. E o faz por meio da
demonstração do seu malferimento, da sua completa violação: expõe-na na total
ausência de dignidade (no sentido ora trabalhado) de que padecem Fabiano e sua
família, que não têm, como já se viu, as suas características de seres humanos
respeitadas, sendo transformados em verdadeiros animais, embrutecidos,
bestializados. Pode-se dizer, inclusive, que, na exemplificação que
promove, Vidas Secas possibilita uma compreensão mais clara da
dignidade da pessoa humana do que qualquer conceituação abstrata (própria,
vezes da norma jurídica, outras muitas vezes da doutrina especializada),
poderia oferecer. Fá-lo, pois demonstra o que é a ausência de dignidade humana,
que, de tão grave, violenta e intensa, evidencia, de forma muito mais nítida, o
seu real significado. Essa obra de Graciliano Ramos funciona, assim,
como verdadeiro veículo do direito, eis que, além de permitir a sua melhor
apreensão, ajuda a desenvolvê-lo, passando a integrá-lo.
Vamos ler um pouco sobre Vidas Secas
"Vidas Secas" de Graciliano Ramos
"Vidas Secas", romance publicado em 1938, retrata a vida miserável de uma família de retirantes sertanejos obrigada a se deslocar de tempos em tempos para áreas menos castigadas pela seca. A obra pertence à segunda fase modernista, conhecida como regionalista, e é qualificada como uma das mais bem-sucedidas criações da época.
O estilo seco de Graciliano Ramos, que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos, parece transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão.
- Leia a análise de Vidas Secas
Resumo
O livro possui 13 capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos em qualquer ordem. Porém, o primeiro, "Mudança", e o último, "Fuga", devem ser lidos nessa sequência, pois apresentam uma ligação que fecha um ciclo. "Mudança" narra as agruras da família sertaneja na caminhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto que em "Fuga" os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida. Assim, pode-se dizer que a miséria em que as personagens vivem em Vidas Secas representa um ciclo. Quando menos se espera, a situação se agrada e a família é obrigada a se mudar novamente.
Fabiano é um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Sem ter frequentado a escola, não é um homem com o dom das palavras, e chega a ver a si próprio como um animal às vezes. Empregado em uma fazenda, pensa na brutalidade com que seu patrão o trata. Fabiano admira o dom que algumas pessoas possuem com a palavra, mas assim como as palavras e as ideias o seduziam, também cansavam-no.
Sem conseguir se comunicar direito com as pessoas, entra em apuros em um bar com um soldado, que o desafiaram para um jogo de apostas. Irritado por perder o jogo, o soldado provoca Fabiano o insultando de todas as formas. O pobre vaqueiro aguenta tudo calado, pois não conseguia se defender. Até que por fim acaba insultando a mãe do soldado e indo preso. Na cadeia pensa na família, em como acabou naquela situação e acaba perdendo a cabeça, gritando com todos e pensando na família como um peso a carregar.
Sinhá Vitória é a esposa de Fabiano. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora. Além de cuidar dos filhos e da casa, ajudava o marido em seu trabalho também. Esperta, sabia fazer contas e sempre avisava ao marido sobre os trapaceiros que tentavam tirar vantagem da falta de conhecimento de Fabiano. Sonhava com um futuro melhor para seus filhos e não se conformava com a miséria em que viviam. Seu sonho era ter uma cama de fita de couro para dormir.
Nesse cenário de miséria e sem se darem muita conta do que acontecia a seu redor, viviam os dois meninos. O mais novo via na figura do pai um exemplo. Já o mais velho queria aprender sobre as palavras. Um dia ouviu a palavra "inferno" de alguém e ficou intrigado com seu significado. Perguntou a Sinhá Vitória o que significava, mas recebeu uma resposta vaga. Vai então perguntar a Fabiano, mas esse o ignora. Volta a questionar sua mãe, mas ela fica brava com a insistência e lhe dá um cascudo. Sem ter ninguém que o entenda e sacie sua dúvida, só consegue buscar consolo na cadela Baleia.
Um dia a chuva chega (o "inverno") e ficam todos em casa ouvindo as histórias de Fabiano. Histórias essas que ele nunca tinha vivido, feitos que ele nunca havia realizado. Em meio a suas histórias inventadas, Fabiano pensava se as coisas iriam melhorar dali então. Para o filho mais novo, as sombras projetadas pela fogueira no escuro deixava o pai com um ar grotesco. Já o mais velho ouvia as histórias de Fabiano com muita desconfiança.
O Natal chegou e a família inteira foi à festa da cidade. Fabiano ficou embriagado e se sentia muito valente, só pensando em se vingar do soldado que lhe colocou atrás das grades. Uma hora, cansado de seu próprio teatro, faz de suas roupas um travesseiro e dorme no chão. Sinha Vitória estava cansada de cuidar do marido embriagado e ter que olhar as crianças também. Em um dado momento, ela toma coragem para fazer o que mais estava com vontade: encontra um cantinho e se abaixa para urinar. Satisfeita, acende uma piteira de barro e fica a sonhar com a cama de fitas de couro e um futuro melhor.
No que talvez seja o momento mais famoso do livro, Fabiano vê o estado em que se encontrava Baleia, com pelos caídos e feridas na boca, e achou que ela pudesse estar doente. O vaqueiro resolve, então, sacrificar a cadela. Sinhá Vitória recolhe os filhos, que protestavam contra o sacrifício do pobre animal, mas não havia outra escolha. O primeiro tiro acerta o traseiro de Baleia e a deixa com as patas inutilizadas. A cadela sentia o fim próximo e chega a querer morder Fabiano. Apesar da raiva que sentia de Fabiano, o via como um companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da visão de uma espécie de paraíso dos cachorros, onde ela poderia caçar preás à vontade, Baleia morre sentindo dor e arrepios.
E assim a vida vai passando para essa família sofredora do sertão nordestino. Até que um dia, com o céu extremamente azul e nenhuma nuvem à vista, vendo os animais em estado de miséria, Fabiano decide que a hora de partir novamente havia chegado. Partiram de madrugada largando tudo como haviam encontrado. A cadela Baleia era uma imagem constante nos pensamentos confusos de Fabiano. Sinhá Vitória tentava puxar conversa com o marido durante a caminhada e os dois seguiam fazendo planos para o futuro e pensando se existiria um destino melhor para seus filhos.
Lista de Personagens
Baleia: cadela que é tratada como membro da família. Pensa, sonha e age como se fosse gente.
Sinhá Vitória: mulher de Fabiano. Mãe de 2 filhos, é batalhadora e inconformada com a miséria em que vivem. É esperta e sabe fazer conta, sempre prevenindo o marido sobre trapaceiros.
Fabiano: vaqueiro rude e sem instrução, não tem a capacidade de se comunicar bem e lamenta viver como um bicho, sem ter frequentado a escola. Ora reconhece-se como um homem e sente orgulho de viver perante às adversidades do nordeste, ora se reconhece como um animal. Sempre a procura de emprego, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos: o mais novo admira a figura do pai vaqueiro, integrado à terra em que vivem. Já o mais velho não tem interesse nessa vida sofrida do sertão e quer descobrir o sentido das palavras, recorrendo mais à mãe.
Patrão: fazendeiro desonesto que explorava seus empregados, contrata Fabiano para trabalhar.
Sobre Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Terminando o segundo-grau em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista durante alguns anos. Em 1915 volta para o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de Barros, que falece em 1920 e o deixa com quatro filhos.
Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi convencido por Augusto Schmidt a publicar seu primeiro livro, "Caetés" (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e 1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos livros enquanto trabalhava como editor, professor e diretor da Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio Vagas enquanto se preparava para lançar "Angústia", que conseguiu publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos seguintes uma viagem à URSS e países europeus junto de sua segunda esposa, o que lhe rende seu livro "Viagem" (1954).
Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos denunciou fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em 1952 e vem a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953 aos 60 anos.
Suas principais obras são: "Caetés" (1933), "São Bernardo" (1934), "Angústia" (1936), "Vidas Secas" (1938), "Infância" (1945), "Insônia" (1947), "Memórias do Cárcere" (1953) e "Viagem" (1954).
O estilo seco de Graciliano Ramos, que se expressa principalmente por meio do uso econômico dos adjetivos, parece transmitir a aridez do ambiente e seus efeitos sobre as pessoas que ali estão.
- Leia a análise de Vidas Secas
Resumo
O livro possui 13 capítulos que, por não terem uma linearidade temporal, podem ser lidos em qualquer ordem. Porém, o primeiro, "Mudança", e o último, "Fuga", devem ser lidos nessa sequência, pois apresentam uma ligação que fecha um ciclo. "Mudança" narra as agruras da família sertaneja na caminhada impiedosa pela aridez da caatinga, enquanto que em "Fuga" os retirantes partem da fazenda para uma nova busca por condições mais favoráveis de vida. Assim, pode-se dizer que a miséria em que as personagens vivem em Vidas Secas representa um ciclo. Quando menos se espera, a situação se agrada e a família é obrigada a se mudar novamente.
Fabiano é um homem rude, típico vaqueiro do sertão nordestino. Sem ter frequentado a escola, não é um homem com o dom das palavras, e chega a ver a si próprio como um animal às vezes. Empregado em uma fazenda, pensa na brutalidade com que seu patrão o trata. Fabiano admira o dom que algumas pessoas possuem com a palavra, mas assim como as palavras e as ideias o seduziam, também cansavam-no.
Sem conseguir se comunicar direito com as pessoas, entra em apuros em um bar com um soldado, que o desafiaram para um jogo de apostas. Irritado por perder o jogo, o soldado provoca Fabiano o insultando de todas as formas. O pobre vaqueiro aguenta tudo calado, pois não conseguia se defender. Até que por fim acaba insultando a mãe do soldado e indo preso. Na cadeia pensa na família, em como acabou naquela situação e acaba perdendo a cabeça, gritando com todos e pensando na família como um peso a carregar.
Sinhá Vitória é a esposa de Fabiano. Mulher cheia de fé e muito trabalhadora. Além de cuidar dos filhos e da casa, ajudava o marido em seu trabalho também. Esperta, sabia fazer contas e sempre avisava ao marido sobre os trapaceiros que tentavam tirar vantagem da falta de conhecimento de Fabiano. Sonhava com um futuro melhor para seus filhos e não se conformava com a miséria em que viviam. Seu sonho era ter uma cama de fita de couro para dormir.
Nesse cenário de miséria e sem se darem muita conta do que acontecia a seu redor, viviam os dois meninos. O mais novo via na figura do pai um exemplo. Já o mais velho queria aprender sobre as palavras. Um dia ouviu a palavra "inferno" de alguém e ficou intrigado com seu significado. Perguntou a Sinhá Vitória o que significava, mas recebeu uma resposta vaga. Vai então perguntar a Fabiano, mas esse o ignora. Volta a questionar sua mãe, mas ela fica brava com a insistência e lhe dá um cascudo. Sem ter ninguém que o entenda e sacie sua dúvida, só consegue buscar consolo na cadela Baleia.
Um dia a chuva chega (o "inverno") e ficam todos em casa ouvindo as histórias de Fabiano. Histórias essas que ele nunca tinha vivido, feitos que ele nunca havia realizado. Em meio a suas histórias inventadas, Fabiano pensava se as coisas iriam melhorar dali então. Para o filho mais novo, as sombras projetadas pela fogueira no escuro deixava o pai com um ar grotesco. Já o mais velho ouvia as histórias de Fabiano com muita desconfiança.
O Natal chegou e a família inteira foi à festa da cidade. Fabiano ficou embriagado e se sentia muito valente, só pensando em se vingar do soldado que lhe colocou atrás das grades. Uma hora, cansado de seu próprio teatro, faz de suas roupas um travesseiro e dorme no chão. Sinha Vitória estava cansada de cuidar do marido embriagado e ter que olhar as crianças também. Em um dado momento, ela toma coragem para fazer o que mais estava com vontade: encontra um cantinho e se abaixa para urinar. Satisfeita, acende uma piteira de barro e fica a sonhar com a cama de fitas de couro e um futuro melhor.
No que talvez seja o momento mais famoso do livro, Fabiano vê o estado em que se encontrava Baleia, com pelos caídos e feridas na boca, e achou que ela pudesse estar doente. O vaqueiro resolve, então, sacrificar a cadela. Sinhá Vitória recolhe os filhos, que protestavam contra o sacrifício do pobre animal, mas não havia outra escolha. O primeiro tiro acerta o traseiro de Baleia e a deixa com as patas inutilizadas. A cadela sentia o fim próximo e chega a querer morder Fabiano. Apesar da raiva que sentia de Fabiano, o via como um companheiro de muito tempo. Em meio ao nevoeiro e da visão de uma espécie de paraíso dos cachorros, onde ela poderia caçar preás à vontade, Baleia morre sentindo dor e arrepios.
E assim a vida vai passando para essa família sofredora do sertão nordestino. Até que um dia, com o céu extremamente azul e nenhuma nuvem à vista, vendo os animais em estado de miséria, Fabiano decide que a hora de partir novamente havia chegado. Partiram de madrugada largando tudo como haviam encontrado. A cadela Baleia era uma imagem constante nos pensamentos confusos de Fabiano. Sinhá Vitória tentava puxar conversa com o marido durante a caminhada e os dois seguiam fazendo planos para o futuro e pensando se existiria um destino melhor para seus filhos.
Lista de Personagens
Baleia: cadela que é tratada como membro da família. Pensa, sonha e age como se fosse gente.
Sinhá Vitória: mulher de Fabiano. Mãe de 2 filhos, é batalhadora e inconformada com a miséria em que vivem. É esperta e sabe fazer conta, sempre prevenindo o marido sobre trapaceiros.
Fabiano: vaqueiro rude e sem instrução, não tem a capacidade de se comunicar bem e lamenta viver como um bicho, sem ter frequentado a escola. Ora reconhece-se como um homem e sente orgulho de viver perante às adversidades do nordeste, ora se reconhece como um animal. Sempre a procura de emprego, bebe muito e perde dinheiro no jogo.
Filhos: o mais novo admira a figura do pai vaqueiro, integrado à terra em que vivem. Já o mais velho não tem interesse nessa vida sofrida do sertão e quer descobrir o sentido das palavras, recorrendo mais à mãe.
Patrão: fazendeiro desonesto que explorava seus empregados, contrata Fabiano para trabalhar.
Sobre Graciliano Ramos
Graciliano Ramos de Oliveira nasceu em Quebrangulo, Alagoas, em 27 de outubro de 1892. Terminando o segundo-grau em Maceió, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como jornalista durante alguns anos. Em 1915 volta para o Alagoas e casa-se com Maria Augusta de Barros, que falece em 1920 e o deixa com quatro filhos.
Trabalhando como prefeito de uma pequena cidade interiorana, foi convencido por Augusto Schmidt a publicar seu primeiro livro, "Caetés" (1933), com o qual ganhou o prêmio Brasil de Literatura. Entre 1930 e 1936 morou em Maceió e seguiu publicando diversos livros enquanto trabalhava como editor, professor e diretor da Instrução Pública do Estado. Foi preso político do governo Getúlio Vagas enquanto se preparava para lançar "Angústia", que conseguiu publicar com a ajuda de seu amigo José Lins do Rego em 1936. Em 1945 filia-se ao Partido Comunista do Brasil e realiza durante os anos seguintes uma viagem à URSS e países europeus junto de sua segunda esposa, o que lhe rende seu livro "Viagem" (1954).
Artista do segundo movimento modernista, Graciliano Ramos denunciou fortemente as mazelas do povo brasileiro, principalmente a situação de miséria do sertão nordestino. Adoece gravemente em 1952 e vem a falecer de câncer do pulmão em 20 de março de 1953 aos 60 anos.
Suas principais obras são: "Caetés" (1933), "São Bernardo" (1934), "Angústia" (1936), "Vidas Secas" (1938), "Infância" (1945), "Insônia" (1947), "Memórias do Cárcere" (1953) e "Viagem" (1954).
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