segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Pensar...

Diferentes, mas iguais
As escolas e as famílias precisam ser referência de igualdade no tratamento de meninos e meninas
THAIS PAIVA


“Desde o começo do ano eu ficava constrangida com os olhares daquele professor. Até que um dia, quando eu estava no corredor esperando a aula, ele passou por mim e falou: ‘Essa calça deveria ser proibida aqui na escola, não vê como tira a atenção dos alunos e dos professores?’”. O relato dessa estudante para o documento “Por que discutir gênero na escola”, elaborado pela ONG Ação Educativa, ilustra como a desigualdade de gênero que trespassa a sociedade é também ensinada e reforçada dentro dos muros das escolas.
discriminação e a violência contra as alunas se manifestam das formas mais diversas. Estão presentes nas falácias que abalam a autoestima e nutrem a descrença das garotas em suas capacidades como a que diz que meninos são melhores que meninas em Matemática como também na objetificação de seus corpos e no assédio moral e sexual.
Entre as consequências do machismo institucionalizado, absenteísmo, baixo desempenho escolar e autoestima, evasão, entre outros impactos negativos no desenvolvimento e aprendizagem das meninas. Segundo um estudo americano publicado recentemente na revista Science, a partir dos seis anos, as meninas começam a acreditar que são menos brilhantes e desistir de atividades desafiadoras.
A situação, infelizmente, não difere muito quando o escopo são os lares brasileiros. Desde muito cedo, as meninas são pressionadas pelas famílias para se enquadrarem dentro de um ideário limitante de feminilidade. Além disso, como mostra o estudo “Por ser menina no Brasil: crescendo entre direitos e violências”, feito pela Plan, a disparidade na distribuição de afazeres domésticos entre meninas e meninos permanece gigantesca. Um exemplo: enquanto 81,4% das meninas relataram arrumar a própria cama, apenas 11,6% dos irmãos meninos disseram desempenhar a mesma tarefa.
Dados como estes preocupam, pois mostram que a desigualdade de gênero é incitada por aqueles que mais deveriam combatê-la: pais e educadores. “A escola tem uma responsabilidade social em promover a democracia e a ampliação da cidadania. Por isso, é preocupante que acabe, muitas vezes, reforçando estereótipos e preconceitos de gênero”, diz Isis Pagy, diretora presidente da Fundação Vale.
Na visão de Isis, nos últimos anos, presenciamos uma escalada do conservadorismo que, na educação, se manifestou também na retirada das menções a gênero dos Planos Municipais de Educação. “Isso assusta, pois estamos vendo que a violência contra a mulher não está diminuindo e ainda criam-se mecanismos para impedir essa discussão. É preciso tratar as questões referentes as diferenças e desigualdades de gênero com a importância que merece”.
Amana Mattos, professora de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora na área de Infância, Juventude e Gênero, lembra que a educação se dá tanto nos espaços mais institucionalizados como a escola quanto nos menos como as relações familiares e de amizade. “Tanto em um quanto no outro, o que se vê é que as normas de gênero são transmitidas muito mais pelas práticas do que pelo discurso. Logo, você pode até dizer, com todas as letras, que meninos e meninas têm os mesmos direitos, mas se em casa ou na escola o tratamento é diferente de nada adianta”, diz.
Ao, por exemplo, exigir que apenas as meninas ajudem a lavar a louça ou colocar a mesa, as famílias estão ensinando, mesmo que inconscientemente, papéis e hierarquias de gênero. “Isso evidencia como precisamos estar sempre repensando, desnaturalizando uma série de relações e práticas que nos são muitos automáticas, apesar de desiguais”, acrescenta.
Mas como desconstruir uma desigualdade tão arraigada em nossa sociedade? Para Amana, um dos grandes problemas é que a escola funciona ainda sob uma lógica binária de gênero, isto é, o masculino e o feminino são entendidos como categorias estanques e excludentes: o que é característico de um não pode ser do outro. Além disso, o espaço escolar faz uma hierarquização dos gêneros, valorizando o masculino em detrimento do feminino. “Há estudos que mostram que quando o espaço é exíguo para a Educação Física, por exemplo, os meninos têm seu espaço do futebol preservado e as meninas ficam sem atividade física”, conta.
Desta maneira, instituir políticas que ajudem a construir um espaço mais acolhedor, que respeite as diferenças e veja na diversidade um ambiente mais rico para a aprendizagem torna-se essencial. “É muito importante que todos os educadores da escola, professores, secretário escolar, merendeira e etc., tenham a compreensão sobre as discussões relacionadas as diferenças e desigualdades de gênero”, defende Isis.
Para a especialista, o tema deve perpassar o planejamento escolar, adentrar reuniões pedagógicas e pautar materiais que sirvam de orientação para os professores e demais educadores. “Por que não trazer a história e a visão das mulheres para os conteúdos escolares? Discutir dados como diferença salarial, déficit de participação política, estereótipos de profissões masculinas e femininas e, claro, a violência fruto da desigualdade são alguns caminhos”, aponta Isis.


domingo, 15 de outubro de 2017

Bullying?????


O bullying não é um fenômeno moderno, mas hoje os pais estão bem preocupados porque parece que ele se alastrou nos locais onde há grupos de crianças e jovens, principalmente na escola. Todos têm receio de que o filho seja alvo de humilhação, exclusão ou brincadeiras de mau gosto por parte dos colegas, para citar exemplos da prática, mas poucos são os que se preocupam em preparar o filho para que ele não seja autor dessas atividades.
 Quando pensamos no "bu- llying", logo consideramos os atos violentos e agressivos, mas é raro que os consideremos como atos de incivilidade. Vamos, então, refletir a respeito desse fenômeno sob essa ótica.
 Por que é que mesmo os adultos que nunca foram vítimas de atos de violência, como assalto ou furto, sentem uma grande sensação de insegurança nos espaços públicos? Simples: porque eles sentem que nesses locais tudo pode acontecer. A vida em comunidade está comprometida, e cada um faz o que julga o melhor para si sem considerar o bem comum.
Outro dia, vi uma cena que exemplifica bem essa situação. Em uma farmácia repleta de clientes, só dois caixas funcionavam, o que causou uma fila imensa. Em dado momento, um terceiro caixa abriu e o atendente chamou o próximo cliente. O que aconteceu? Várias pessoas que estavam no fim da fila e outras que aguardavam ainda a sua vez correram para serem atendidas. Apenas uma jovem mulher reagiu e disse que estavam todos com pressa e aguardando a sua vez. Ela se tornou alvo de ironias e ainda ouviu um homem dizer que "a vida é dos mais espertos". Essa cena permite uma conclusão: a de que ser um cidadão responsável e respeitoso promove desvantagens.
É esse clima que, de um modo geral, reina entre crianças e jovens: o de que ser um bom garoto ou aluno correto não é um bem em si. Além disso, as crianças e os jovens também convivem com essa sensação de insegurança de que, na escola, tudo pode acontecer. Muitos criam estratégias para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo de zombarias. Tais estratégias podem se transformar em atos de incivilidade.
A convivência promove conflitos variados e é preciso saber negociá-los com estratégias respeitosas e civilizadas. Muitos pais ensinam seus filhos a negociarem conflitos de modo pacífico e polido, mas muitos não o fazem. É preciso estar atento a esse detalhe. Aliás, costumo dizer que é nos detalhes que a educação acontece.
Faz parte também do trabalho da escola esse ensinamento. Aprender a não cometer atos de incivilidade diminuiria muito o "bullying". Para tanto, não se pode abandonar crianças ou jovens à própria sorte: é preciso a presença educativa e reguladora dos adultos. Isso vale, principalmente, nos horários escolares em que o fenômeno mais ocorre: na entrada, na saída e no recreio.


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Vamos ler...

As escolas podem atuar na prevenção do suicídio?
Embora não devam lidar com a questão sozinhas, as escolas podem lançar mão de estratégias pedagógicas para prevenir e encaminhar os casos de saúde mental
ANA LUIZA BASILIO

             Pelo menos uma vez por semana, em um período de duas horas, a escola recebe uma psicóloga, cedida pela Secretaria da Educação, que trabalha com os alunos a partir de um grupo de convivência.
“É um momento de partilha de histórias, angústias, decepções, que tem apoiado a condução do nosso processo educativo com os jovens”, afirma a diretora da unidade, Maria do Socorro Alves Soares.
Ela conta que o trabalho está ancorado no plano político pedagógico da unidade e que isso possibilitou que toda a comunidade escolar se sensibilizasse para a observação sensível e acompanhamento dos estudantes. Outro fator que a gestora destaca como benéfico é o tempo que os jovens permanecem na escola diariamente – são nove horas, com turnos que vão das 7h às 17h.
“Com isso, podemos estabelecer vínculos com os alunos, conhecê-los em profundidade e reconhecer situações que exigem nossa intervenção, como tristeza ou desânimo em sala de aula”, atesta Maria do Socorro.
Segundo a diretora, os casos que merecem atenção são informados à gestão escolar pelos professores e pelos próprios estudantes. Dali em diante, são consideradas três estratégias: o apoio da psicóloga escolar, o diálogo aproximado com as famílias e o encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossial (CAPS), com o qual a escola mantem parceria.
“As famílias aqui no município, em geral, têm baixa instrução e esses jovens vivenciam dinâmicas familiares diversas. Alguns sentem a ausência do pai, outros são criados pelos avós, e muitos trazem incertezas relativas à própria identidade. Por isso, entendo que é fundamental que o trabalho pedagógico leve em consideração o contexto de vida de cada aluno”, coloca a gestora.

Apoio à saúde mental
Para a educadora e psicopedagoga Adriana Foz é de extrema importância que a sociedade, as instituições e as escolas se envolvam no combate e na sensibilização para a questão do suicídio, um dos problemas de saúde mental que mais cresce no Brasil e no mundo.
Dados do Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, revela que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos saiu de um patamar de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014, um aumento de quase 100%.
“O suicídio já foi muito velado. Hoje, estamos em um momento diferente, também por conta das mídias digitais, que acabam por expor esses episódios. Por isso, as escolas precisam aprender a processar informações e a abordá-las”, orienta.
Para a especialista, a abordagem de temas como suicídio e de outros potenciais desencadeadores como Bullying, depressão, uso de drogas e álcool e violências sexuais, devem ser feitas de maneira ininterrupta. “Isso possibilita a retirada do estigma que ronda a temática, quanto menor, o problema de saúde mental diminui”, afirma.
A escola, no entanto, não deve resolver essas questões sozinha. Seu papel é o de prover informação de qualidade para a comunidade escolar, construir conhecimento acerca das temáticas e dialogar com outros atores da rede, como familiares e equipamentos de assistência social.
“Internamente, por exemplo, é possível propiciar situações de envolvimento com o emocional dos estudantes. Trabalhar pelo desenvolvimento de habilidades como autogestão, sociabilidade, comunicação, interação com o Outro”, sugere Adriana.
Isso é fundamental, sobretudo, porque a escola se apresenta como um local em potencial para o trabalho com a saúde mental dos estudantes. “Afinal, é onde eles passam mais tempo”, observa. “Há uma diversidade muito rica de interações, vivências, que permitem a essa instituição iniciar um diagnóstico”.
Para isso, recomenda-se um olhar cuidadoso por parte dos profissionais aliado a boas estratégias pedagógicas. O método é utilizado pelo Projeto Cuca Legal, desenvolvido pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Fundada em 2006, a iniciativa, da qual Adriana Foz é coordenadora, vem apoiando na construção de pesquisas e referenciais que pautem metodologias às redes escolares na promoção da saúde mental. O objetivo é promover um ambiente saudável e criativo e apoiar na melhoria dos processos de ensino aprendizagem.
O curso de capacitação prevê oito horas de formação, que pode ser direcionada a todos os funcionários da escola, desde o pessoal de apoio aos cargos de gestão. “É crucial que esses profissionais saibam diferenciar, por exemplo, os casos de alunos que têm problemas pedagógicos daqueles que têm alguma questão de origem comportamental”, assegura.
Adriana entende que a junção de boas estratégias e metodologias assertivas pode garantir o papel da escola como promotora da saúde mental de sua comunidade. “O conceito vai além da ausência de doenças mentais. É formar para que esse jovem se sinta bem consigo mesmo e na relação com os outros. É vê-lo capaz de administrar as emoções e a própria vida, lidar de forma positiva com as adversidades, reconhecer limites e buscar ajuda quando necessário”, finaliza.


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