terça-feira, 29 de agosto de 2017

Vamos ler...

A água x bebidas isotônicas
Entenda os conceitos de dissolução e solvatação e compare a água, o solvente universal, aos isotônicos
ELISABETE ROSA

                É comum nos depararmos com pessoas com garrafas de água em ambientes públicos, parques, nas ruas, mas é também muito comum verificarmos em supermercados uma variedade de bebidas isotônicas, que, muitas vezes, são indicadas, por meio de propaganda, para hidratação corpórea.
Esclareça a seus alunos sobre algumas das funções básicas da água: conhecida como solvente universal, a água é uma molécula capaz de dissolver inúmeras substâncias, porém nem todas. Demonstre a seus alunos a dissolução de uma pitada de sal de cozinha em um copo de água. Faça uma agitação do sal na água e demonstre como o sal no estado sólido deixa de ser visto.
O nosso organismo quando ingerimos algo salgado, pois precisamos de água para dissolver esse sal. Se a pessoa não ingerir água, o sal atrai a água dos nossos órgãos, deixando-os desidratados, assim como a nossa pele e até a cartilagem entre os ossos, provocando a falta de lubrificação e até mesmo a dor.
Por que sentimos sede? Com certeza vão conseguir explicar que é devido à necessidade do sal se dissolver no organismo. Se ele não encontrar água o suficiente, começa a retirar a água dos órgãos, da boca e aí vem a sensação de sede.
Além de dissolver nutrientes, sais minerais e outros compostos importantes, a água colabora no transporte dessas substâncias para todo o corpo garantindo as condições estáveis do meio interno, conhecida como homeostase.
Na homeostase térmica, a água faz o controle da temperatura corpórea mantendo-a estável. Na homeostase hídrica, a água ingerida mantém sua presença na composição interna e externa das células, no plasma, nas secreções, no líquido espinhal etc.
Mas qual é a composição da água? Ela é pura? Não, a água que ingerimos não é totalmente pura. Ela vem de rochas, de fontes naturais, de estação de tratamento de água e, portanto, possui muitas substâncias dissolvidas. Tais substâncias estão em baixa concentração, isto é, baixa quantidade em massa.
Peça a seus alunos para que leiam o rótulo de frascos de água mineral de marcas diferentes. Vão perceber que há água rica em cálcio, sódio e outras contendo magnésio, potássio, cloretos, carbonatos etc.
Compare o rótulo de um isotônico com um frasco de água de coco. Perceberão que algumas substâncias se repetem. Lembre-os de que o termo isotônico para bebidas significa uma solução que foi desenvolvida industrialmente para ficar parecida com a quantidade de sal que temos de ter no organismo.
Muitas indústrias tentam similaridade com o rótulo da água de coco, um produto natural também rico em compostos solúveis na água. Nos rótulos dos isotônicos vão perceber que a diferença entre os demais rótulos é também a presença do açúcar, utilizado na fórmula para repor energia.
Peça ainda que verifiquem as quantidades indicadas nos rótulos, que na água mineral as quantidades em massa são menores e a variedade é muito maior.
Agora, motive-os a pensar na fonte de sais minerais e outras substâncias químicas que ingerimos no café da manhã, no almoço, no lanche, nos sucos etc. ao longo de todo o dia. Pergunte: precisamos de mais sais minerais oriundos de bebidas isotônicas? Como o nosso corpo reage aos excessos de alguns sais?
Primeiramente, devemos pensar que os sais que naturalmente ingerimos precisam da água para dissolvê-los dentro do organismo. Imagine a sede após comer um bacalhau. Precisamos de muita água para a dissolução do sal contido no peixe.
Um sal de cloreto de sódio, por exemplo, quando em água, tem seus inúmeros íons de sódio e de cloreto separados. A separação ocorre devido às moléculas de água com seu lado negativo, lado do átomo O (oxigênio) atrair o lado positivo do cristal iônico, que é o sódio. Várias moléculas de água ficam ao redor de cada íon sódio, mantendo-o separado do cloreto.
Já o lado positivo da molécula da água, o lado dos hidrogênios, se aproxima do íon negativo, o cloreto, e várias moléculas de água ficam ao seu redor, impedindo-o de se aproximar do sódio. Os íons tentam se aproximar, mas a água não permite. Daí a dissolução do sal. Essas moléculas de água ao redor de cada íon formam as coroas de solvatação. Para cada íon são várias moléculas de água. Se ingerirmos muitas bebidas carregadas de sais somados aos sais provenientes da nossa alimentação, quem vai solvatar os íons? Precisaremos de mais água para que essa possa fazer a coroa de solvatação ao redor dos íons afinal, somente solvatados vão entrar na corrente sanguínea para serem distribuídos pelas células, portanto, a água dissolve os sais antes que estes retirem água do próprio corpo humano.
Naturalmente, por meio da alimentação, já temos os sais necessários para o organismo e, mesmo perdendo sais e água em atividades físicas através da pele, no suor, notamos que a própria água de torneira ou mineral, com a presença de muitas substâncias químicas, é capaz de repor as necessidades corpóreas.
Em caso de uma grave desidratação, perda de muita água e sais minerais, é necessária a orientação médica para saber qual a melhor maneira de repor e controlar a desidratação de forma rápida e eficaz.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

"Educar é apresentar a vida e não dizer como viver" Rosely Sayão

Rosely Sayão: “Educar é apresentar a vida e não dizer como viver”
A psicóloga, que acaba de lançar o livro 'Educação sem blá-blá-blá', fala sobre a importância das relações familiares e escolares para uma educação para o mundo
THAIS PAIVA
Educar não é fácil, muito menos nos tempos atuais. A sociedade tem passado por muitas transformações, e os pais se veem, tantas vezes, completamente perdidos. É o que evidencia a psicóloga Rosely Sayão em seu recém-lançado livro Educação sem blá-blá-blá (Ed. Três Estrelas, 2016).
Mas por que pais e professores estão tão perdidos? Para começar, diz a especialista, complicamos o que é muito simples e simplificamos o que tem grande complexidade. E, para completar, somos muito egoístas. “Não queremos elas [as crianças] sofram, como se fosse possível evitar que isso ocorra, não queremos sofrer com a dor delas, não queremos que elas vivenciem frustrações, não queremos que sejam excluídas de grupos sociais. Para nós, o que conta são esses nossos sentimentos, mesmo que, para elas, passar por todas essas experiências “negativas” seja algo muito benéfico”, explica na introdução da obra.
Em conversa com Carta Educação, Rosely falou sobre os principais temas abordados no livro como a relação entre família e escola, a dificuldade dos pais de dizer “não”, como apresentar a tecnologia às crianças, entre outros assuntos essenciais para um convívio familiar e escolar mais saudável.
Carta Educação: O mundo tem passado por muitas transformações em um espaço de tempo relativamente pequeno. A educação vem acompanhando essas mudanças? Quais são os ensinamentos de nossos avós, pais ainda pertinentes e quais aqueles que precisam ser revisados?
Rosely Sayão: Os ensinamentos que precisamos manter são aqueles gerais, relacionados aos princípios e valores. Independentemente das mudanças que ocorreram no mundo, do estilo de vida que as crianças e jovens levam hoje, é preciso ensiná-los a ser honesto, ético, justo, respeitar o outro. O que muda é a maneira de ensinar: acho que hoje a mediação funciona bem. Então usar um filme para discutir uma determinada situação ou uma notícia que está tendo repercussão nas mídias pode ser um ponto de partida para conversar sobre os temas. Antes os pais só mandavam, era “faça isso, não faça aquilo, isso pode, aquilo não”. Hoje, deve haver a conversa junto com a atitude. Não é só conversa também, são os dois juntos.
CE: No seu livro, a senhora fala em crise da autoridade dos pais e como isso tem dificultado a relação deles com os filhos. Poderia explicar melhor?
RS: A crise da autoridade começou faz tempo, mas estamos vendo os efeitos disso na educação só agora. E não é só a autoridade dos pais que está sendo contestada, é geral. Se analisarmos o nosso panorama político nas últimas décadas, percebemos que nem as autoridades políticas são respeitadas mais. Em relação aos pais, dizer não para o filho é apresentar a vida como ela é e essa é a dificuldade dos pais, pois eles querem criar um mundo perfeito para seus filhos, só que esse mundo não existe. Mas educar é isso: apresentar a vida e não dizer como viver.
CE: Por que é tão difícil dizer “não”?
RS: Muitos pais me perguntam isso, como dizer “não” ao filho, e eu viro e respondo: “Olha para ele e diz ‘não’”. A verdade é que os pais não querem bancar o que vem depois do não. A birra, o choro, a revolta. Mas tem de bancar, pois é função dos pais fazer com que a criança faça aquilo que é bom para ela. Porque isso ela não sabe, a criança só sabe o que ela gosta e não gosta.
CE: Muitos pais têm sobrecarregado seus filhos com atividades extraclasse na ânsia de moldá-los dentro do currículo perfeito desde muito cedo. Como a senhora enxerga essa tendência?
RS: O individualismo e a competição estão no seu auge em paralelo com o poder de consumo. Há uma geração educada dessa maneira e percebe-se que isso não está ajudando a melhorar o mundo, pelo contrário. Então está na hora de a gente repensar isso tudo. Se o mundo ensina a gente a ser competitivo, a gente tem que dar uma vacina para nosso filho, isto é, ensinar a ser cooperativo. O mundo ensina que é importante consumir, tenho que dar a vacina e mostrar que pode-se consumir de maneira crítica. Isso que é importante e não ensinar mais do mesmo. Se o mundo já ensina isso, a gente não precisa ensinar de novo.
CE: A senhora também defende que a relação entre família e escola deva ser, em certa medida, conflitante para que a criança tenha duas perspectivas de mundo. Como assim?
RS: Uma é a perspectiva de mundo segundo a família, que é uma perspectiva privada, recheada muitas vezes de preconceitos, pré-julgamentos, convicções. E a escola deveria oferecer para o alunado a visão de mundo na perspectiva do conhecimento. Assim, o aluno pode olhar para aquilo que ele aprendeu com os pais e pensar criticamente a respeito. Se não o mundo nunca muda, os filhos vão repetir os pais e pronto. Então quando eu vejo famílias procurando escolas que falam a mesma linguagem que eles, eu ficou um pouco assustada porque é colocar a criança sob a ditadura de um pensamento único.
CE: Falando nisso, qual sua opinião sobre o projeto Escola Sem Partido que quer tipificar e punir o assédio ideológico nas escolas?
RS: Tudo que acontece na escola é político, é que nós achamos que política é sempre partidária. Toda escola é obrigada a ter um projeto político-pedagógico, esse é o nome. O que significa esse político? O tipo de cidadão que nós queremos formar. A gente quer formar um cidadão consciente, crítico ou um cidadão que aceita tudo que dizem para ele? Eu li alguma coisa sobre o Escola Sem Partido e não entendi porque para mim pareceu que o projeto busca negar uma determinada ideologia, mas não outras. Não há neutralidade nem na ciência, ao ler um texto científico, eu interpreto segundo meu referencial ético, moral. Então não existe escola sem política. Sem partido, até pode ser, mas não é isso que esse movimento prega.
CE: A relação família-escola está fadada a ser tensa?
RS: Não necessariamente, está fadada a ser conflituosa. Em nosso País, temos uma imagem pejorativa dessa palavra. Mas o conflito é sempre muito positivo, porque permite que visões diferentes encontrem diálogo e possam assim modificar um ao outro. Para nós, hoje, resolver conflito significa confrontar. Conflito não é convencer o outro da minha visão, mas também entender a postura, visão do outro.
CE: Deve haver diferenças entre educar meninos e meninas?
RS: Tem diferença entre educar um filho e outro, entre educar Maria e Mariana. Cada filho é único e a gente vai aprendendo na trajetória a conhecê-lo, que ele não é do jeito que a gente queria que fosse, etc. Então educar meninos é diferente de educar meninas, sim, mas não no sentido dos preconceitos e dos estereótipos de gênero. Mais no sentido de que educar cada filho é diferente. Eu conheci uma mãe que me disse uma frase que me fez pensar muito. Ela disse assim: “A maior injustiça que eu posso cometer com meus filhos é tratá-los da mesma maneira”.
CE: Como a tecnologia deve ser inserida no cotidiano da criança? Quais são os limites?
RS: É bom lembrar que a televisão já foi usada como babá eletrônica. Os pais quando precisavam de um pouco de sossego ligavam a TV e as crianças ficavam lá encantadas. A grande vantagem do tablet é que agora dá para fazer isso fora de casa, de qualquer lugar. Eu vejo muito em restaurante, a família almoçando e a criança lá no tablet. Hoje, nós temos muitas pesquisas que são conflitantes entre si, estudo falando que é bom apresentar cedo, outro falando que prejudica.
Eu diria que o bom senso ajuda. Se você der um tablet ou um celular para uma criança com menos de 6 anos, ele vai ver aquilo como um brinquedo, mas é um brinquedo que não vai estimular a criatividade dela em nada. Usar um recurso tecnológico para a criança ficar quietinha não vale a pena. A partir dos 7 anos, acho que dá para usar muitos recursos interessantes, mas a gente não pode esquecer que a infância – que vai mais ou menos até os 12 anos – deve ser usada para a criança explorar o mundo em todas as suas possibilidades. Então se ela ficar o dia todo só empinando pipa não vai ser legal porque vai perder outras oportunidades. O mesmo vale para um recurso tecnológico.


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