terça-feira, 5 de maio de 2015

A crise hídrica na agricultura

A crise hídrica na agricultura
A situação só ficou assim em São Paulo por que inatingíveis governadores do Estado não fizeram nada. O que resta aos agricultores paulistas?
por Rui Daher  publicado 23/01/2015 13:07
Antonio Costa/ Agência Paraná

Não conheço completamente a história da cidade de Piedade, no interior de São Paulo. Sei um pouco mais de Socorro, onde a Mantiqueira deixa o Estado e adentra Minas Gerais. Em passado não muito distante, lá plantei café.
Hoje em dia, no entanto, uma coisa é certa: as duas têm sérios motivos para clamarem piedade e socorro aos governo e partido, que há vinte anos administram o estado de São Paulo.
Atibaia, distante 70 km da capital, no momento, não deveria estar incluída nos clamores da salvação. Apesar das controvérsias em relação à origem tupi de seu nome, sua etimologia sempre passa por rios e águas.
As três cidades fizeram parte de Andanças Capitais nesta semana.
Nelas, moram perto de 250 mil pessoas. Somem-se os muitos turistas que para lá acorrem, devido à proximidade com a Capital.
Em comum, as três apresentam grande potencial hidrográfico. Socorro, inclusive, faz parte do Circuito das Águas (?). Também, e talvez por isso, lá se desenvolveu uma agricultura equivocadamente denominada pequena, mas grandiosa ao encher nosso pandulho e dar prazer ao paladar.
Hortifruticultura, no falar dos técnicos e barões do agronegócio; cachaças de cana a metro quadrado, adequadas às fossas do setor sucroalcooleiro; flores para os enamorados se presentearem.
Enfim, 60% da economia da região ocupa-se da agricultura, que seculares gerações nos ensinaram precisar de água para dar certo.
Em entrevista para o Valor Econômico, de 22/01, o novo secretário estadual da Agricultura, Arnaldo Jardim, afirmou que o governo irá restringir o uso de água na irrigação. Diz a matéria: “a medida deve afetar produtores responsáveis por 50% do abastecimento de hortifrútis do Estado”.
Ficou fácil imaginar a quem se dirigirão os olhares de William e Renata, no Jornal Nacional, TV Globo, como os novos “vilões da inflação”.
Vai mais longe o Secretário: “sistemas de irrigação serão desativados, como é o caso dos pivôs centrais, que usam muita água para pouco efeito na produtividade (...) não há mais espaço para esse tipo de tecnologia defasada”.
Sábio o doutor (curioso, lembro-me que ele pertenceu ao velho Partidão). Com ele não concordam os senhores Massashi Komakura, Ítalo Deluomine e Kihara Oki, donos de pequenos pivôs e produtores de hortaliças e flores, com quem conversei.
Difícil, na escrita, dar a entoação exata de suas vozes diante da situação. Mas, por exemplo, levando-as à malandragem carioca seria mais ou menos assim: “Qual é mermão? Manda o Jardim vir aqui medir o tamanho do meu pepino com e sem irrigação. E onde enfio o velho pivô? No microaspersor dele?”.
Deixem uma pra mim. Pergunto: hidroponia é técnica ultrapassada?
Fato é que as restrições foram anunciadas no Valor como futuras, e Geraldo Alckmin as publicou no Diário Oficial no mesmo dia. Serão desfeitas 3.000 autorizações de captação.
O governo estadual fala em priorizar o consumo humano. Humanistas, pois, desculpando-me pela redundância. Não deixará morrerem de sede cidadãos para alimentar vegetarianos ou sensitivos que adoram flores.
Justificados, pois? Coisa nenhuma! A situação só ficou assim por que sucessivos e inatingíveis governadores do Estado não fizeram blicas, enquanto folhas e telas cotidianas se dedicavam exclusivamente, a bombardear os Poderes Federais.
Foram 20 anos de inércia sobre o abastecimento de água, com semiprivatizações deslocadas e irresponsáveis. Já em 2003, estudos prenunciavam graves riscos, a partir de 2010, caso não fossem realizados novos investimentos pela SABESP.
Somente agora, crise irremediável, governo e mídia abrem ouvidos e microfones a importantes especialistas do assunto.
O que resta aos agricultores paulistas? Ouvirem o mesmo que toda a população ouviu nos últimos meses do governador Geraldo Alckmin e continua ouvindo do presidente da Sabesp, Jerson Kelman: “não há racionamento, o que existe é distribuição em quantidades medidas em rações”.


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