O que significa, na prática, o adiamento do
Enem de 30 a 60 dias
Se mantidos os atuais moldes da prova, feriados e
calendários de outros vestibulares podem atrapalhar as possibilidades de
adiamento estabelecidas pelo MEC
Por Taís Ilhéu
O Ministério da Educação finalmente anunciou na
quarta-feira 20.05.2020 que adiará o Enem 2020.
A mudança veio um dia após o Senado votar a favor do adiamento da prova. O
próximo passo seria a votação no Congresso, e o MEC já previa uma “derrota”.
Antes disso, entidades estudantis, universidades e
até influenciadores já
vinham cobrando o governo pela mudança, alegando que a permanência da data
prejudicaria os estudantes que estão há semanas sem aulas e enfrentando
condições precárias de estudos em meio à pandemia do coronavírus.
O adiamento, no entanto, não trouxe completo alívio
e tampouco a certeza de que a prova será realizada em melhores condições.
Enquanto alguns países
cancelaram seus equivalentes ao Enem, adiaram por data indefinida a
fim de avaliar o avanço da pandemia ou substituíram por outras avaliações, o
ministro Abraham Weintraub anunciou que, por aqui, a escolha das
datas do exame ficará a cargo dos candidatos que farão a prova. A
consulta deve ser aberta no final de junho, quando os inscritos poderão votar
na página do candidato por um adiamento entre 30 e 60 dias da data inicialmente
prevista (1º e 8 de novembro).
Em nota, o Inep (responsável pela organização do
exame) não deu mais informações e, portanto, não é possível saber com exatidão
o grau de liberdade que os candidatos terão para escolher entre essas datas.
Porém, considerando o histórico do exame de ser realizado aos domingos, o
calendário definido até o momento dos grandes vestibulares e outros fatores,
avaliamos os possíveis cenários de realização do Enem 2020.
Os entraves do adiamento proposto pelo MEC
Embora o MEC tenha anunciado um adiamento do exame
entre 30 e 60 dias da data original, na prática, é quase impossível encontrar
uma data adequada dentro deste período– ao menos para os estudantes que
pretendam fazer dois outros grandes vestibulares do país ou comemorar as festas
de final de ano. Calma, a gente explica.
Caso o Enem se mantenha aos domingos de dois finais
de semana consecutivos, como tem sido nas últimas edições, os candidatos
poderão escolher entre as seguintes opções de data na consulta: 6 e 13, 13 e
20, e 20 e 27 de dezembro, ou 27 de dezembro e 3 de janeiro. Acontece que quase
nenhuma dessas está completamente disponível para a realização das provas. No
dia 13 de dezembro acontece a segunda fase do vestibular da Unesp, que seleciona
7.725 estudantes para seus 24 campi espalhados pelo estado de São Paulo. As
duas primeiras opções de data ficam, então, inviabilizadas. Já a última opção é
ainda mais complicada, uma vez que o primeiro domingo é justamente entre os
feriados de Natal e Ano Novo (assim como na penúltima opção) e o outro bate com
a data da segunda fase da Fuvest,
que ainda não anunciou mudanças no seu calendário.
Isso tudo, é claro, se as outras grandes
universidades não anunciarem mudanças nas datas de seus vestibulares – como a
Fuvest e Comvest dizem já estar estudando – e o Enem se mantiver no formato dos
outros anos. Na semana passada, técnicos do Inep revelaram ao jornal O
Estado de S. Paulo que que estão analisando formas de adaptar o exame
a um único dia. Nesse caso, e mantido o plano de adiamento já
anunciado, o estudante poderia, teoricamente, escolher entre cinco datas: 6,
13, 20 e 27/12 e 3/1. Considerando os empecilhos dos feriados e das segundas
fases da Unesp e Fuvest teriam apenas duas opções, 6 e 20 de dezembro.
No final das contas, restaria pouco mais de um mês
de diferença da data inicial, em um cenário em que ainda não é possível
precisar se a situação da pandemia será mais amena. “Um mês é insuficiente”,
defendeu o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão,
em entrevista ao UOL. Para a entidade, a mudança deveria ser
vinculada ao calendário escolar, ou seja, enquanto não voltarem as aulas, não
deveria ser fixada uma data para o Enem.