A crise hídrica na agricultura
A situação só ficou assim em São Paulo por que inatingíveis
governadores do Estado não fizeram nada. O que resta aos agricultores
paulistas?
Antonio Costa/ Agência Paraná
Não conheço completamente a
história da cidade de Piedade, no interior de São Paulo. Sei um pouco mais de
Socorro, onde a Mantiqueira deixa o Estado e adentra Minas Gerais. Em passado
não muito distante, lá plantei café.
Hoje em dia, no entanto,
uma coisa é certa: as duas têm sérios motivos para clamarem piedade e socorro
aos governo e partido, que há vinte anos administram o estado de São Paulo.
Atibaia, distante 70 km da capital, no momento, não deveria
estar incluída nos clamores da salvação. Apesar das controvérsias em relação à
origem tupi de seu nome, sua etimologia sempre passa por rios e águas.
As três cidades fizeram
parte de Andanças Capitais nesta semana.
Nelas, moram perto de 250 mil pessoas. Somem-se os muitos
turistas que para lá acorrem, devido à proximidade com a Capital.
Em comum, as três
apresentam grande potencial hidrográfico. Socorro, inclusive, faz parte do
Circuito das Águas (?). Também, e talvez por isso, lá se desenvolveu uma
agricultura equivocadamente denominada pequena, mas grandiosa ao encher nosso
pandulho e dar prazer ao paladar.
Hortifruticultura, no falar
dos técnicos e barões do agronegócio; cachaças de cana a metro quadrado,
adequadas às fossas do setor sucroalcooleiro; flores para os enamorados se
presentearem.
Enfim, 60% da economia da região ocupa-se da agricultura,
que seculares gerações nos ensinaram precisar de água para dar certo.
Em entrevista para o Valor Econômico, de 22/01, o novo
secretário estadual da Agricultura, Arnaldo Jardim, afirmou que o governo irá
restringir o uso de água na irrigação. Diz a matéria: “a medida deve afetar
produtores responsáveis por 50% do abastecimento de hortifrútis do Estado”.
Ficou fácil imaginar a quem se dirigirão os olhares de
William e Renata, no Jornal Nacional, TV Globo, como os novos “vilões da inflação”.
Vai mais longe o
Secretário: “sistemas de irrigação serão desativados, como é o caso dos pivôs
centrais, que usam muita água para pouco efeito na produtividade (...) não há
mais espaço para esse tipo de tecnologia defasada”.
Sábio o doutor (curioso,
lembro-me que ele pertenceu ao velho Partidão). Com ele não concordam os
senhores Massashi Komakura, Ítalo Deluomine e Kihara Oki, donos de pequenos
pivôs e produtores de hortaliças e flores, com quem conversei.
Difícil, na escrita, dar a
entoação exata de suas vozes diante da situação. Mas, por exemplo, levando-as à
malandragem carioca seria mais ou menos assim: “Qual é mermão? Manda o Jardim
vir aqui medir o tamanho do meu pepino com e sem irrigação. E onde enfio o
velho pivô? No microaspersor dele?”.
Deixem uma pra mim.
Pergunto: hidroponia é técnica ultrapassada?
Fato é que as restrições
foram anunciadas no Valor como futuras, e Geraldo Alckmin as publicou no Diário Oficial no
mesmo dia. Serão desfeitas 3.000 autorizações de captação.
O governo estadual fala em
priorizar o consumo humano. Humanistas, pois, desculpando-me pela redundância.
Não deixará morrerem de sede cidadãos para alimentar vegetarianos ou sensitivos
que adoram flores.
Justificados, pois? Coisa
nenhuma! A situação só ficou assim por que sucessivos e inatingíveis
governadores do Estado não fizeram blicas, enquanto folhas e telas cotidianas
se dedicavam exclusivamente, a bombardear os Poderes Federais.
Foram 20 anos de inércia
sobre o abastecimento de água, com semiprivatizações deslocadas e
irresponsáveis. Já em 2003, estudos prenunciavam graves riscos, a partir de
2010, caso não fossem realizados novos investimentos pela SABESP.
Somente agora, crise
irremediável, governo e mídia abrem ouvidos e microfones a importantes
especialistas do assunto.
O que resta aos
agricultores paulistas? Ouvirem o mesmo que toda a população ouviu nos últimos
meses do governador Geraldo Alckmin e continua ouvindo do presidente da Sabesp,
Jerson Kelman: “não há racionamento, o que existe é distribuição em quantidades
medidas em rações”.
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