As
escolas podem atuar na prevenção do suicídio?
Embora não devam lidar com a questão sozinhas, as escolas podem lançar
mão de estratégias pedagógicas para prevenir e encaminhar os casos de saúde
mental
ANA LUIZA
BASILIO
Pelo menos uma vez por semana, em
um período de duas horas, a escola recebe uma psicóloga, cedida pela Secretaria
da Educação, que trabalha com os alunos a partir de um grupo de convivência.
“É um
momento de partilha de histórias, angústias, decepções, que tem apoiado a
condução do nosso processo educativo com os jovens”, afirma a diretora da
unidade, Maria do Socorro Alves Soares.
Ela
conta que o trabalho está ancorado no plano político pedagógico da unidade e
que isso possibilitou que toda a comunidade escolar se sensibilizasse para a
observação sensível e acompanhamento dos estudantes. Outro fator que a gestora
destaca como benéfico é o tempo que os jovens permanecem na escola diariamente
– são nove horas, com turnos que vão das 7h às 17h.
“Com
isso, podemos estabelecer vínculos com os alunos, conhecê-los em profundidade e
reconhecer situações que exigem nossa intervenção, como tristeza ou desânimo em
sala de aula”, atesta Maria do Socorro.
Segundo
a diretora, os casos que merecem atenção são informados à gestão escolar pelos
professores e pelos próprios estudantes. Dali em diante, são consideradas três
estratégias: o apoio da psicóloga escolar, o diálogo aproximado com as famílias
e o encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossial (CAPS), com o qual a
escola mantem parceria.
“As
famílias aqui no município, em geral, têm baixa instrução e esses jovens
vivenciam dinâmicas familiares diversas. Alguns sentem a ausência do pai,
outros são criados pelos avós, e muitos trazem incertezas relativas à própria
identidade. Por isso, entendo que é fundamental que o trabalho pedagógico leve
em consideração o contexto de vida de cada aluno”, coloca a gestora.
Apoio à saúde mental
Para a
educadora e psicopedagoga Adriana Foz é de extrema importância que a sociedade,
as instituições e as escolas se envolvam no combate e na sensibilização para a
questão do suicídio, um dos problemas de saúde mental que mais cresce no Brasil
e no mundo.
Dados
do Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente a partir de dados
oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde,
revela que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos saiu
de um patamar de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014, um
aumento de quase 100%.
“O
suicídio já foi muito velado. Hoje, estamos em um momento diferente, também por
conta das mídias digitais, que acabam por expor esses episódios. Por isso, as
escolas precisam aprender a processar informações e a abordá-las”, orienta.
Para a
especialista, a abordagem de temas como suicídio e de outros potenciais
desencadeadores como Bullying, depressão, uso de drogas e álcool e violências
sexuais, devem ser feitas de maneira ininterrupta. “Isso possibilita a retirada
do estigma que ronda a temática, quanto menor, o problema de saúde mental
diminui”, afirma.
A
escola, no entanto, não deve resolver essas questões sozinha. Seu papel é o de
prover informação de qualidade para a comunidade escolar, construir
conhecimento acerca das temáticas e dialogar com outros atores da rede, como
familiares e equipamentos de assistência social.
“Internamente,
por exemplo, é possível propiciar situações de envolvimento com o
emocional dos estudantes. Trabalhar pelo desenvolvimento de habilidades como
autogestão, sociabilidade, comunicação, interação com o Outro”, sugere Adriana.
Isso é
fundamental, sobretudo, porque a escola se apresenta como um local em potencial
para o trabalho com a saúde mental dos estudantes. “Afinal, é onde eles passam
mais tempo”, observa. “Há uma diversidade muito rica de interações, vivências,
que permitem a essa instituição iniciar um diagnóstico”.
Para
isso, recomenda-se um olhar cuidadoso por parte dos profissionais aliado a boas
estratégias pedagógicas. O método é utilizado pelo Projeto Cuca
Legal, desenvolvido pelo Departamento de
Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Fundada
em 2006, a iniciativa, da qual Adriana Foz é coordenadora, vem apoiando na
construção de pesquisas e referenciais que pautem metodologias às redes
escolares na promoção da saúde mental. O objetivo é promover um ambiente
saudável e criativo e apoiar na melhoria dos processos de ensino aprendizagem.
O
curso de capacitação prevê oito horas de formação, que pode ser direcionada a
todos os funcionários da escola, desde o pessoal de apoio aos cargos de gestão.
“É crucial que esses profissionais saibam diferenciar, por exemplo, os casos de
alunos que têm problemas pedagógicos daqueles que têm alguma questão de origem
comportamental”, assegura.
Adriana
entende que a junção de boas estratégias e metodologias assertivas pode
garantir o papel da escola como promotora da saúde mental de sua comunidade. “O
conceito vai além da ausência de doenças mentais. É formar para que esse jovem
se sinta bem consigo mesmo e na relação com os outros. É vê-lo capaz de
administrar as emoções e a própria vida, lidar de forma positiva com as
adversidades, reconhecer limites e buscar ajuda quando necessário”, finaliza.
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