O problema da educação não
é falta de dinheiro
Maílson da Nóbrega
A qualidade do capital
humano é essencial para o desenvolvimento. A baixa qualidade da educação
explica a perda da liderança econômica da Inglaterra para os Estados Unidos por
volta de 1870 e para a Alemanha no fim do século XIX. Para Rondo Cameron e
Larry Neal, no livro “A Concise Economic History of the World”, a Inglaterra
foi o último país rico a universalizar a educação fundamental. A Revolução
Industrial ocorreu, segundo eles, “na era do artesão inventor. Depois, a
ciência formou a base do processo produtivo”. Em vez dos recursos da natureza –
algodão, lã, linho, minério de ferro -, a indústria passou a depender cada vez
mais de novos materiais, nascidos da pesquisa científica. Nessa área,
americanos e alemães, com melhor educação, venceram os ingleses. A Suécia, que
era atrasada no início do século XIX, se industrializou rapidamente graças à
educação. Em 1850, apenas 10% dos suecos eram analfabetos, enquanto um terço
dos ingleses não sabia ler nem escrever.
No Brasil, até os anos
1960, acreditava-se que a educação seria mero efeito do desenvolvimento. Em 1950
os respectivos gastos públicos eram de apenas 1,4% do PIB. A partir dos anos
1970, a visão se inverteu. Convencemo-nos de que a prosperidade depende da
educação. Os gastos subiram e hoje atingem 5,8% do PIB. A educação fundamental
foi universalizada na década de 90 (um século e meio depois dos Estados Unidos
e quase meio século depois da Coreia do Sul). Agora, demandamos melhora da
qualidade, mas a ideia está contaminada pelo hábito de esperar que a despesa
pública resolva qualquer problema. Daí o equivocado projeto de lei que aumenta
os gastos em educação para 10% do PIB. Na mesma linha, Dilma e o Congresso
querem aplicar na educação grande parte das receitas do petróleo.
“Mais do que verbas, é
urgente uma completa revisão das instituições educativas vigentes”.
Proporcionalmente,
nossos gastos em educação equivalem à média dos países ricos. Passamos os
Estados Unidos (5,5% do PIB). Investimos mais do que o Japão, a China e a
Coreia do Sul, três salientes casos de êxito na matéria (todos abaixo de 5% do
PIB). Na verdade, a má qualidade da nossa educação tem mais a ver com gestão do
que com falta de recursos. O professor José Arthur Giannotti assim se referiu
aos jovens que foram às ruas pedir mais dinheiro para o setor: “Pleiteiam mais
verbas sem se dar conta da podridão do sistema. Mais do que verbas, é urgente
uma completa revisão das instituições educativas vigentes. A começar pela
reeducação dos educadores, que, na maioria das vezes, ignoram o que estão a
ensinar” (“O Estado de S. Paulo”, 19/6/2013).
Outro educador,
Naercio Menezes Filho, citou o interessante caso de Sobral (“Valor”,
21/6/2013). Entre 2005 e 2011 o município cearense avançou quatro vezes mais
rápido no ensino fundamental do que São Paulo, sem aumento significativo de
despesa. “O gasto por aluno que Sobral usa para alcançar esse padrão de ensino
nas séries iniciais é de apenas R$ 3 130,00, enquanto a rede municipal de São
Paulo gasta ao redor de R$ 6 000 por aluno, ou seja, duas vezes mais.” Destinar
receitas do petróleo para a educação é um duplo equívoco: (1) o problema não é
de insuficiência de recursos, mas de sua aplicação, como vimos; (2) não é
correto financiar políticas públicas permanentes com recursos finitos e voláteis.
No longo prazo, as reservas de petróleo se esgotarão, enquanto os preços (e as
receitas) se sujeitam às oscilações do mercado mundial de commodities.
A proposta desconhece
outra lição da experiência: a receita de recursos naturais não renováveis deve
pertencer às gerações futuras. O exemplo a seguir é o da Noruega, onde as
receitas do petróleo são carreadas para um fundo que em 2012 acumulava 131% do
PIB. O fundo serve para lidar com os efeitos de quedas dos preços do petróleo e
principalmente com os custos previdenciários que advirão do envelhecimento da
população.
A educação brasileira
precisa de uma revolução gerencial e de prioridades, inclusive para gastar
melhor os recursos disponíveis. Ampliar os respectivos gastos e destinar-lhe as
receitas do petróleo agrada a certas plateias, mas o resultado poderá ser
apenas o aumento dos desperdícios. Será péssimo para as próximas gerações.
Fonte: 23 de julho de 2013 Revista Veja
A educação não muda porque as pessoas que tem o poder nas escolas(gestores) sempre favorecem o próprio bolso dificultando uso ideal dos recursos, ou seja, precisamos de gestores que saibam administrar as verbas escolares para a escola e não para si. Será que um dia isso acontecerá? Duvido muito...
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