O tratamento brasileiro que eliminou o HIV de um
paciente
Trabalho realizado pela Universidade Federal de São
Paulo mostra que não há cargas virais no corpo de um voluntário há pelo menos
17 meses
Cesar Gaglioni06 de jul de
2020
Um trabalho
realizado pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) conseguiu eliminar
por completo o vírus HIV de um paciente. O voluntário, cuja identidade não foi
revelada publicamente, mostrou o resultado de seus exames para a CNN Brasil. Eles mostram que não há cargas virais em seu corpo há pelo menos 17
meses.
Atualmente,
há apenas dois casos de eliminação do HIV reconhecidos pela comunidade
científica. A próxima fase do estudo brasileiro está suspensa em razão da
pandemia do novo coronavírus. Mais testes serão realizados antes do envio da pesquisa
para a validação científica e médica antes do tratamento ser aplicado em larga
escala.
Como foi
feito o tratamento. E os próximos passos
O estudo
teve início em 2013, liderado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz,
pós-doutor especializado na diversidade genética do HIV. A pesquisa contou com
30 voluntários, todos homens, que possuíam carga viral baixa – o que significa
que não podiam transmitir o vírus, mesmo convivendo com ele.
“A gente
intensificou o tratamento. Usamos três substâncias no estudo, além de criar uma
vacina”, disse Diaz à CNN Brasil. A administração dos remédios envolve uma
combinação em maior dose de medicamentos que já são usados por pacientes
infectados pelo HIV.
Já a vacina
experimental foi produzida a partir do DNA dos próprios pacientes, combinando
células de defesa e moléculas presentes no vírus de cada um deles.
Os outros
pacientes envolvidos nos testes tiveram resultados positivos, mas não no mesmo
nível que o paciente que conseguiu eliminar o vírus. Por isso, o infectologista
acredita que ainda é cedo para se falar em cura, já que não há garantias de que
o HIV não vai voltar a se manifestar.
“Caso o tempo nos mostre que o vírus não voltou, aí
sim, poderemos falar em cura” Ricardo Sobhie Diaz infectologista,
em entrevista ao jornal Correio Braziliense
O estudo da
Unifesp está paralisado em razão da pandemia do novo coronavírus. Quando os
trabalhos retornarem, a fase seguinte da pesquisa vai realizar o tratamento com
60 pacientes, incluindo mulheres.
O processo
ainda é longo. Será necessário avaliar os resultados dos outros pacientes da
primeira fase, escolher os voluntários da segunda fase, administrar as
substâncias, aguardar resultados, validá-los e posteriormente levá-los para a
análise de autoridades médicas. Não há uma previsão para a aplicação em larga
escala do tratamento caso ele se prove um sucesso.
Os outros
dois casos de pacientes recuperados
Só há outros dois casos registrados
e já aceitos pela comunidade científica de pacientes que se recuperaram do HIV.
O primeiro
deles foi o americano Timothy Ray Brown, que passou por um tratamento em Berlim
no ano de 2007. O segundo foi o venezuelano Adam Castillejo, que passou por um
tratamento em Londres em 2019.
Em ambos os
casos, os pacientes foram tratar outras doenças – uma leucemia e um câncer no
sistema linfático, respectivamente.
Os dois
passaram por transplantes de medula óssea e, devido a uma mutação rara em uma
proteína presentes nas células, viram-se livres do HIV, que não conseguia mais
se reproduzir. Quando os resultados foram divulgados, os pacientes já estavam
saudáveis há meses.
A comunidade
científica não se refere aos casos de Brown e Castillejo como “cura”. O termo
usado é “remissão a longo prazo”, já que não se sabe exatamente se em algum
momento o HIV pode voltar a aparecer.
O HIV no
mundo
O HIV foi
notado pela primeira vez em 1981, espalhando-se rapidamente pelo mundo nas
décadas de 1980 e 1990. Ainda em 2020 a OMS (Organização Mundial da Saúde)
considera a aids, doença causada pelo vírus, como uma epidemia
em curso.
Os dados
mais recentes sobre o HIV no mundo são de 2018. Naquele ano, 37,9 milhões de
pessoas estavam convivendo com o vírus. No mesmo ano, cerca de 770 mil mortes
foram registradas em decorrência da aids, que ataca o sistema imunológico do
paciente.
O Unaids,
programa da Organização das Nações Unidas para o combate à aids, tem como
meta acabar com a epidemia até 2030. Para isso, eles trabalham com uma meta intitulada
95-95-95.
O objetivo
prevê que 95% dos infectados devem ter ciência de que possuem o vírus; destas,
95% devem estar recebendo tratamento e, destas, 95% devem apresentar bons
resultados.
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