segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Pensar...

Diferentes, mas iguais
As escolas e as famílias precisam ser referência de igualdade no tratamento de meninos e meninas
THAIS PAIVA


“Desde o começo do ano eu ficava constrangida com os olhares daquele professor. Até que um dia, quando eu estava no corredor esperando a aula, ele passou por mim e falou: ‘Essa calça deveria ser proibida aqui na escola, não vê como tira a atenção dos alunos e dos professores?’”. O relato dessa estudante para o documento “Por que discutir gênero na escola”, elaborado pela ONG Ação Educativa, ilustra como a desigualdade de gênero que trespassa a sociedade é também ensinada e reforçada dentro dos muros das escolas.
discriminação e a violência contra as alunas se manifestam das formas mais diversas. Estão presentes nas falácias que abalam a autoestima e nutrem a descrença das garotas em suas capacidades como a que diz que meninos são melhores que meninas em Matemática como também na objetificação de seus corpos e no assédio moral e sexual.
Entre as consequências do machismo institucionalizado, absenteísmo, baixo desempenho escolar e autoestima, evasão, entre outros impactos negativos no desenvolvimento e aprendizagem das meninas. Segundo um estudo americano publicado recentemente na revista Science, a partir dos seis anos, as meninas começam a acreditar que são menos brilhantes e desistir de atividades desafiadoras.
A situação, infelizmente, não difere muito quando o escopo são os lares brasileiros. Desde muito cedo, as meninas são pressionadas pelas famílias para se enquadrarem dentro de um ideário limitante de feminilidade. Além disso, como mostra o estudo “Por ser menina no Brasil: crescendo entre direitos e violências”, feito pela Plan, a disparidade na distribuição de afazeres domésticos entre meninas e meninos permanece gigantesca. Um exemplo: enquanto 81,4% das meninas relataram arrumar a própria cama, apenas 11,6% dos irmãos meninos disseram desempenhar a mesma tarefa.
Dados como estes preocupam, pois mostram que a desigualdade de gênero é incitada por aqueles que mais deveriam combatê-la: pais e educadores. “A escola tem uma responsabilidade social em promover a democracia e a ampliação da cidadania. Por isso, é preocupante que acabe, muitas vezes, reforçando estereótipos e preconceitos de gênero”, diz Isis Pagy, diretora presidente da Fundação Vale.
Na visão de Isis, nos últimos anos, presenciamos uma escalada do conservadorismo que, na educação, se manifestou também na retirada das menções a gênero dos Planos Municipais de Educação. “Isso assusta, pois estamos vendo que a violência contra a mulher não está diminuindo e ainda criam-se mecanismos para impedir essa discussão. É preciso tratar as questões referentes as diferenças e desigualdades de gênero com a importância que merece”.
Amana Mattos, professora de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora na área de Infância, Juventude e Gênero, lembra que a educação se dá tanto nos espaços mais institucionalizados como a escola quanto nos menos como as relações familiares e de amizade. “Tanto em um quanto no outro, o que se vê é que as normas de gênero são transmitidas muito mais pelas práticas do que pelo discurso. Logo, você pode até dizer, com todas as letras, que meninos e meninas têm os mesmos direitos, mas se em casa ou na escola o tratamento é diferente de nada adianta”, diz.
Ao, por exemplo, exigir que apenas as meninas ajudem a lavar a louça ou colocar a mesa, as famílias estão ensinando, mesmo que inconscientemente, papéis e hierarquias de gênero. “Isso evidencia como precisamos estar sempre repensando, desnaturalizando uma série de relações e práticas que nos são muitos automáticas, apesar de desiguais”, acrescenta.
Mas como desconstruir uma desigualdade tão arraigada em nossa sociedade? Para Amana, um dos grandes problemas é que a escola funciona ainda sob uma lógica binária de gênero, isto é, o masculino e o feminino são entendidos como categorias estanques e excludentes: o que é característico de um não pode ser do outro. Além disso, o espaço escolar faz uma hierarquização dos gêneros, valorizando o masculino em detrimento do feminino. “Há estudos que mostram que quando o espaço é exíguo para a Educação Física, por exemplo, os meninos têm seu espaço do futebol preservado e as meninas ficam sem atividade física”, conta.
Desta maneira, instituir políticas que ajudem a construir um espaço mais acolhedor, que respeite as diferenças e veja na diversidade um ambiente mais rico para a aprendizagem torna-se essencial. “É muito importante que todos os educadores da escola, professores, secretário escolar, merendeira e etc., tenham a compreensão sobre as discussões relacionadas as diferenças e desigualdades de gênero”, defende Isis.
Para a especialista, o tema deve perpassar o planejamento escolar, adentrar reuniões pedagógicas e pautar materiais que sirvam de orientação para os professores e demais educadores. “Por que não trazer a história e a visão das mulheres para os conteúdos escolares? Discutir dados como diferença salarial, déficit de participação política, estereótipos de profissões masculinas e femininas e, claro, a violência fruto da desigualdade são alguns caminhos”, aponta Isis.


domingo, 15 de outubro de 2017

Bullying?????


O bullying não é um fenômeno moderno, mas hoje os pais estão bem preocupados porque parece que ele se alastrou nos locais onde há grupos de crianças e jovens, principalmente na escola. Todos têm receio de que o filho seja alvo de humilhação, exclusão ou brincadeiras de mau gosto por parte dos colegas, para citar exemplos da prática, mas poucos são os que se preocupam em preparar o filho para que ele não seja autor dessas atividades.
 Quando pensamos no "bu- llying", logo consideramos os atos violentos e agressivos, mas é raro que os consideremos como atos de incivilidade. Vamos, então, refletir a respeito desse fenômeno sob essa ótica.
 Por que é que mesmo os adultos que nunca foram vítimas de atos de violência, como assalto ou furto, sentem uma grande sensação de insegurança nos espaços públicos? Simples: porque eles sentem que nesses locais tudo pode acontecer. A vida em comunidade está comprometida, e cada um faz o que julga o melhor para si sem considerar o bem comum.
Outro dia, vi uma cena que exemplifica bem essa situação. Em uma farmácia repleta de clientes, só dois caixas funcionavam, o que causou uma fila imensa. Em dado momento, um terceiro caixa abriu e o atendente chamou o próximo cliente. O que aconteceu? Várias pessoas que estavam no fim da fila e outras que aguardavam ainda a sua vez correram para serem atendidas. Apenas uma jovem mulher reagiu e disse que estavam todos com pressa e aguardando a sua vez. Ela se tornou alvo de ironias e ainda ouviu um homem dizer que "a vida é dos mais espertos". Essa cena permite uma conclusão: a de que ser um cidadão responsável e respeitoso promove desvantagens.
É esse clima que, de um modo geral, reina entre crianças e jovens: o de que ser um bom garoto ou aluno correto não é um bem em si. Além disso, as crianças e os jovens também convivem com essa sensação de insegurança de que, na escola, tudo pode acontecer. Muitos criam estratégias para evitar serem vistos como frágeis e se tornarem alvo de zombarias. Tais estratégias podem se transformar em atos de incivilidade.
A convivência promove conflitos variados e é preciso saber negociá-los com estratégias respeitosas e civilizadas. Muitos pais ensinam seus filhos a negociarem conflitos de modo pacífico e polido, mas muitos não o fazem. É preciso estar atento a esse detalhe. Aliás, costumo dizer que é nos detalhes que a educação acontece.
Faz parte também do trabalho da escola esse ensinamento. Aprender a não cometer atos de incivilidade diminuiria muito o "bullying". Para tanto, não se pode abandonar crianças ou jovens à própria sorte: é preciso a presença educativa e reguladora dos adultos. Isso vale, principalmente, nos horários escolares em que o fenômeno mais ocorre: na entrada, na saída e no recreio.


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Vamos ler...

As escolas podem atuar na prevenção do suicídio?
Embora não devam lidar com a questão sozinhas, as escolas podem lançar mão de estratégias pedagógicas para prevenir e encaminhar os casos de saúde mental
ANA LUIZA BASILIO

             Pelo menos uma vez por semana, em um período de duas horas, a escola recebe uma psicóloga, cedida pela Secretaria da Educação, que trabalha com os alunos a partir de um grupo de convivência.
“É um momento de partilha de histórias, angústias, decepções, que tem apoiado a condução do nosso processo educativo com os jovens”, afirma a diretora da unidade, Maria do Socorro Alves Soares.
Ela conta que o trabalho está ancorado no plano político pedagógico da unidade e que isso possibilitou que toda a comunidade escolar se sensibilizasse para a observação sensível e acompanhamento dos estudantes. Outro fator que a gestora destaca como benéfico é o tempo que os jovens permanecem na escola diariamente – são nove horas, com turnos que vão das 7h às 17h.
“Com isso, podemos estabelecer vínculos com os alunos, conhecê-los em profundidade e reconhecer situações que exigem nossa intervenção, como tristeza ou desânimo em sala de aula”, atesta Maria do Socorro.
Segundo a diretora, os casos que merecem atenção são informados à gestão escolar pelos professores e pelos próprios estudantes. Dali em diante, são consideradas três estratégias: o apoio da psicóloga escolar, o diálogo aproximado com as famílias e o encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossial (CAPS), com o qual a escola mantem parceria.
“As famílias aqui no município, em geral, têm baixa instrução e esses jovens vivenciam dinâmicas familiares diversas. Alguns sentem a ausência do pai, outros são criados pelos avós, e muitos trazem incertezas relativas à própria identidade. Por isso, entendo que é fundamental que o trabalho pedagógico leve em consideração o contexto de vida de cada aluno”, coloca a gestora.

Apoio à saúde mental
Para a educadora e psicopedagoga Adriana Foz é de extrema importância que a sociedade, as instituições e as escolas se envolvam no combate e na sensibilização para a questão do suicídio, um dos problemas de saúde mental que mais cresce no Brasil e no mundo.
Dados do Mapa da Violência 2017, estudo publicado anualmente a partir de dados oficiais do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde, revela que, em 12 anos, a taxa de suicídios na população de 15 a 29 anos saiu de um patamar de 5,1 por 100 mil habitantes em 2002 para 5,6 em 2014, um aumento de quase 100%.
“O suicídio já foi muito velado. Hoje, estamos em um momento diferente, também por conta das mídias digitais, que acabam por expor esses episódios. Por isso, as escolas precisam aprender a processar informações e a abordá-las”, orienta.
Para a especialista, a abordagem de temas como suicídio e de outros potenciais desencadeadores como Bullying, depressão, uso de drogas e álcool e violências sexuais, devem ser feitas de maneira ininterrupta. “Isso possibilita a retirada do estigma que ronda a temática, quanto menor, o problema de saúde mental diminui”, afirma.
A escola, no entanto, não deve resolver essas questões sozinha. Seu papel é o de prover informação de qualidade para a comunidade escolar, construir conhecimento acerca das temáticas e dialogar com outros atores da rede, como familiares e equipamentos de assistência social.
“Internamente, por exemplo, é possível propiciar situações de envolvimento com o emocional dos estudantes. Trabalhar pelo desenvolvimento de habilidades como autogestão, sociabilidade, comunicação, interação com o Outro”, sugere Adriana.
Isso é fundamental, sobretudo, porque a escola se apresenta como um local em potencial para o trabalho com a saúde mental dos estudantes. “Afinal, é onde eles passam mais tempo”, observa. “Há uma diversidade muito rica de interações, vivências, que permitem a essa instituição iniciar um diagnóstico”.
Para isso, recomenda-se um olhar cuidadoso por parte dos profissionais aliado a boas estratégias pedagógicas. O método é utilizado pelo Projeto Cuca Legal, desenvolvido pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).
Fundada em 2006, a iniciativa, da qual Adriana Foz é coordenadora, vem apoiando na construção de pesquisas e referenciais que pautem metodologias às redes escolares na promoção da saúde mental. O objetivo é promover um ambiente saudável e criativo e apoiar na melhoria dos processos de ensino aprendizagem.
O curso de capacitação prevê oito horas de formação, que pode ser direcionada a todos os funcionários da escola, desde o pessoal de apoio aos cargos de gestão. “É crucial que esses profissionais saibam diferenciar, por exemplo, os casos de alunos que têm problemas pedagógicos daqueles que têm alguma questão de origem comportamental”, assegura.
Adriana entende que a junção de boas estratégias e metodologias assertivas pode garantir o papel da escola como promotora da saúde mental de sua comunidade. “O conceito vai além da ausência de doenças mentais. É formar para que esse jovem se sinta bem consigo mesmo e na relação com os outros. É vê-lo capaz de administrar as emoções e a própria vida, lidar de forma positiva com as adversidades, reconhecer limites e buscar ajuda quando necessário”, finaliza.


sábado, 16 de setembro de 2017

Análise de uma redação nota 1000

O ser humano é social: necessita viver em comunidade e estabelecer relações interpessoais. Porém, embora intitulado, sob a perspectiva aristotélica, político e naturalmente sociável, inúmeras de suas antiéticas práticas corroboram o contrário. No que tange à questão religiosa no país, em contraposição à laicização do Estado, vigora a intolerância no Brasil, a qual é resultado da consonância de um governo inobservante à Constituição Federal e uma nação alienada ao extremo.
Não obstante, apesar de a formação brasileira ser oriunda da associação de díspares crenças, o que é fruto da colonização, atitudes preconceituosas acarretam a incrédula continuidade de constantes ataques a religiões, principalmente de matriz africana. Diante disso, a união entre uma pátria cujo obsoleto ideário ainda prega a supremacia do cristianismo ortodoxo e um sistema educacional em que o estudo acerca das disparidades religiosas é escasso corrobora a cristalização do ilegítimo desrespeito à religiosidade no país.
Sob essa conjectura, a tese marxista disserta acerca da inescrupulosa atuação do Estado, que assiste apenas a classe dominante. Dessa forma, alienados pelo capitalismo selvagem e pelos subvertidos valores líquidos da atualidade, os governantes negligenciam a necessidade fecunda de mudança dessa distópica realidade envolta na intolerância religiosa no país. Assim, as nefastas políticas públicas que visem a coibir o vilipêndio à crença – ou descrença, no caso do ateísmo – alheia, como o estímulo às denúncias, por exemplo, fomentam a permanência dessas incoerentes práticas no Brasil. Porém, embora caótica, essa situação é mutável.
Convém, portanto, que, primordialmente, a sociedade civil organizada exija do Estado, por meio de protestos, a observância da questão religiosa no país. Desse modo, cabe ao Ministério da Educação a criação de um programa escolar nacional que vise a contemplar as diferenças religiosas e o respeito a elas, o que deve ocorrer mediante o fornecimento de palestras e peças teatrais que abordem essa temática. Paralelamente, ONGs devem corroborar esse processo a partir da atuação em comunidades com o fito de distribuir cartilhas que informem acerca das alternativas de denúncia dessas desumanas práticas, além de sensibilizar a pátria para a luta em prol da tolerância religiosa."
O tema do texto era: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil. ENEM/2016

1 – Identifique em cada parágrafo a ideia principal e se houver a ideia secundária.

2 – Identifique em cada parágrafo os recursos coesivos usados pela autora do texto.

3 – Quais as palavras que você não conhece dentro do texto e seus respectivos significados.

4 - Por que esse assunto se tornou polêmico e preocupante nos últimos anos?

5 - No último parágrafo é apresentada uma proposta de intervenção. Qual a importância de pensar numa proposta de intervenção?

6 – A partir do resumo das ideias de cada parágrafo, pode-se concluir que, para ser coeso e coerente, um texto deve apresentar: certas repetições ou retomadas de elementos; progressão, isto é, o acréscimo de outras ideias coerentes ou informações novas sobre o tema; relação entre as ideias, que devem estar numa sequência organizada e lógica. Em sua opinião, o texto em estudo apresenta essas características? Justifique sua resposta com base no texto.

domingo, 3 de setembro de 2017

O direito ao respeito é para toda a população, inclusive o direito às crenças.

O dilema é fato nas escolas, mas se considerarmos o direito ao respeito pelo o próximo será com certeza uma situação amenizada, porém a sociedade ainda está longe disso, pois todas as religiões que ser a pregadora da verdade como os seus discípulos  e quem não estiver nesse grupo não é bem quisto. O debate é conflituoso, mas necessário.

STF avalia oferta de ensino religioso nas escolas públicas
O ensino religioso não seria a melhor resposta para assegurar direitos civilizatórios sendo, muitas vezes, motivo de questões conflituosas
ANA LUIZA BASILIO

            O ensino religioso nas escolas públicas deve ser objeto de votação do Supremo Tribunal Federal nesta quarta 30, em ação que conta com a relatoria do ministro Roberto Barroso. Estará em pauta a legalidade da oferta do ensino religioso pelas escolas da rede pública, questionada pela publicação da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4439, proposta pela Procuradoria-Geral da República em 2010.
Previsto na Constituição Federal de 1988, o tema do ensino religioso ganhou novos contornos com o decreto nº 7107, de fevereiro de 2010, firmado entre o governo brasileiro e a Santa Sé. O decreto alterou o previsto no parágrafo 1 do artigo 2010 da Constituição, que previa o ensino religioso, de matrícula facultativa, como disciplina das escolas públicas de ensino fundamental, com a seguinte redação:
1º. O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação.
A dimensão da confessionalidade atribuída ao ensino religioso foi “o gatilho disparador da ADI”, como coloca a autora e então procuradora-geral, Déborah Duprat. O texto defende que “a única forma de compatibilizar o caráter laico do Estado Brasileiro com o ensino religioso nas escolas públicas é através da adoção do modelo não confessional, em que o conteúdo programático da disciplina consiste na exposição das doutrinas, das práticas, da história e de dimensões sociais das diferentes religiões – bem como de posições não-religiosas, como o ateísmo e o agnosticismo, sem qualquer tomada de partido por parte dos educadores”.
Também está colocada na peça a necessidade da disciplina ser ministrada por professores da carreira, descartando a presença de docentes alinhados a determinadas confissões religiosas, como explica Déborah.
“Queremos assegurar uma não doutrinação. O ensino religioso teria que abordar então todas as matrizes religiosas, especialmente as de cunho minoritário, como as de matriz africana e também as não religiões”.
Outros desdobramentos
O movimento pela educação laica também vem sendo acompanhado de perto pelo grupo Educação e Laicidade, que reúne diversas organizações da sociedade civil. O coletivo chegou a lançar um manifesto em defesa da aplicação integral de limites constitucionais ao ensino religioso nas escolas públicas brasileiras.
Os signatários da proposta reconhecem a importância da ADI, mas a ampliam com recomendações ao STF a serem levadas em conta no momento da votação da peça.
A coordenadora da Ação Educativa e integrante do coletivo, Denise Carreira, comenta as três principais indicações do grupo. Uma delas, como explica, coloca limites negativos à presença da religião na escola pública, ou seja, delimita o que não pode ser permitido.
“Por exemplo, a matrícula obrigatória no ensino religioso, várias redes trabalham com esse mecanismo, ferindo o princípio da facultatividade; também questionamos a questão da transversalidade adotada por algumas escolas, que faz com que o conteúdo religioso seja diluído em todas as disciplinas; e a presença deste ensino na grade curricular, o que acaba por pressionar os estudantes a cursá-lo”.
O coletivo ainda propõe que o STF faça uma interpretação contemporânea da inserção do ensino religioso na Constituição, que teria acontecido na época “por lobby religioso”. “O termo foi para a Constituição como forma de garantir a preservação de valores civilizatórios. Hoje, no entanto, o Brasil é capaz de apresentar outras soluções laicas a esta intenção, no bojo das Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos, aprovadas em 2012, e de outras legislações que se ancoram no mesmo arcabouço legal”, avalia Denise.
O grupo defende que o ensino religioso não é uma resposta adequada ao exercício da intolerância e do ódio e que, muitas vezes, acaba por acirrar questões conflituosas.
Outra incidência se dá em relação ao não financiamento público do ensino religioso, vetando qualquer possibilidade de direcionar orçamento público para professores, materiais didáticos e recursos de vertentes religiosas.
“Sobretudo em um momento de esvaziamento do Plano Nacional de Educação, é um absurdo jogar dinheiro no ensino religioso. Queremos que o STF reafirme a urgência da implementação do PNE enquanto instrumento de promoção de uma educação de qualidade, comprometido com a justiça social, em detrimento aos interesses de muitas igrejas”, reforça a especialista.
Uma agenda em disputa
Para a presidenta da Católicas pelo Direito de Decidir, Maria José Rosado, é clara a disputa entre os defensores da democracia e do respeito ao princípio da laicidade do Estado, e grupos religiosos, confessionais e cristãos que atuam como atores políticos na permanência do ensino religioso na Constituição e em seus desdobramentos.
Em sua análise, há brechas que dão margem à prática do ensino religioso descolada da ideia de estudo das religiões do ponto de vista histórico, sociológico e antropológico. “O próprio nome ensino religioso reforça a dimensão do ensinar a partir de um caráter religioso”, coloca.
Ela também considera que o acordo com a Santa Sé criou uma hierarquização acerca do modelo confessional. “Deu margem para que qualquer ensino religioso tente inculcar nos alunos uma única religião como verdadeira, a defesa de uma verdade e, portanto, a exclusão de outras vertentes religiosas”.
Ao invés das escolas buscarem, em sua maioria, garantir a formação de estudantes críticos e autônomos, capazes de fazerem suas escolhas e tomarem suas decisões inclusive no campo da religiosidade, muitas praticam proselitismo, com prejuízos à pluralidade do campo.
Dados dos questionários da Prova Brasil 2015 enviados a diretores de escolas municipais, estaduais e federais evidenciam esta questão nas dinâmicas escolares. 1740 diretores afirmam que o ensino religioso na escola segue uma religião específica; quando questionados se a escola possuía uma atividade alternativa aos estudantes que não quisessem cursar o ensino religioso, 28.295 diretores assinalaram que não.
 No Estado do Rio de Janeiro o ensino confessional é garantido pela Lei nº 3459, de 14 de setembro de 2000, assinada pelo então governador Anthony Garotinho. A legislação ainda prevê que os professores da rede sejam credenciados pela autoridade religiosa competente.
Denise Carreira reforça que essas inclinações não devem se dar no âmbito público da educação, “isso sequestra as escolas para a lógica da disputa religiosa”. A seu ver, o ensino religioso deve ser reservado às famílias que professam religiões, ao espaço das próprias denominações religiosas e às escolas confessionais.
O professor da Universidade Federal do ABC, Salomão Ximenes, entende que a confusão normativa acerca do ensino religioso é intencional e “vem servindo de porta de entrada e justificação para as mais diferentes violações à liberdade de pensamento, crença e não crença nas escolas públicas”.
Por esta razão, entende que o momento é oportuno para cobrar autonomia e discernimento dos ministros do STF no sentido de assegurar que “o ensino religioso não sirva à pregação manifesta ou dissimulada de valores religiosos e de uma pretensa dimensão religiosa do sujeito; e que, no âmbito das escolas públicas, trate apenas dos conteúdos relacionados às liberdades religiosas e ao pluralismo da sociedade brasileira”.


terça-feira, 29 de agosto de 2017

Vamos ler...

A água x bebidas isotônicas
Entenda os conceitos de dissolução e solvatação e compare a água, o solvente universal, aos isotônicos
ELISABETE ROSA

                É comum nos depararmos com pessoas com garrafas de água em ambientes públicos, parques, nas ruas, mas é também muito comum verificarmos em supermercados uma variedade de bebidas isotônicas, que, muitas vezes, são indicadas, por meio de propaganda, para hidratação corpórea.
Esclareça a seus alunos sobre algumas das funções básicas da água: conhecida como solvente universal, a água é uma molécula capaz de dissolver inúmeras substâncias, porém nem todas. Demonstre a seus alunos a dissolução de uma pitada de sal de cozinha em um copo de água. Faça uma agitação do sal na água e demonstre como o sal no estado sólido deixa de ser visto.
O nosso organismo quando ingerimos algo salgado, pois precisamos de água para dissolver esse sal. Se a pessoa não ingerir água, o sal atrai a água dos nossos órgãos, deixando-os desidratados, assim como a nossa pele e até a cartilagem entre os ossos, provocando a falta de lubrificação e até mesmo a dor.
Por que sentimos sede? Com certeza vão conseguir explicar que é devido à necessidade do sal se dissolver no organismo. Se ele não encontrar água o suficiente, começa a retirar a água dos órgãos, da boca e aí vem a sensação de sede.
Além de dissolver nutrientes, sais minerais e outros compostos importantes, a água colabora no transporte dessas substâncias para todo o corpo garantindo as condições estáveis do meio interno, conhecida como homeostase.
Na homeostase térmica, a água faz o controle da temperatura corpórea mantendo-a estável. Na homeostase hídrica, a água ingerida mantém sua presença na composição interna e externa das células, no plasma, nas secreções, no líquido espinhal etc.
Mas qual é a composição da água? Ela é pura? Não, a água que ingerimos não é totalmente pura. Ela vem de rochas, de fontes naturais, de estação de tratamento de água e, portanto, possui muitas substâncias dissolvidas. Tais substâncias estão em baixa concentração, isto é, baixa quantidade em massa.
Peça a seus alunos para que leiam o rótulo de frascos de água mineral de marcas diferentes. Vão perceber que há água rica em cálcio, sódio e outras contendo magnésio, potássio, cloretos, carbonatos etc.
Compare o rótulo de um isotônico com um frasco de água de coco. Perceberão que algumas substâncias se repetem. Lembre-os de que o termo isotônico para bebidas significa uma solução que foi desenvolvida industrialmente para ficar parecida com a quantidade de sal que temos de ter no organismo.
Muitas indústrias tentam similaridade com o rótulo da água de coco, um produto natural também rico em compostos solúveis na água. Nos rótulos dos isotônicos vão perceber que a diferença entre os demais rótulos é também a presença do açúcar, utilizado na fórmula para repor energia.
Peça ainda que verifiquem as quantidades indicadas nos rótulos, que na água mineral as quantidades em massa são menores e a variedade é muito maior.
Agora, motive-os a pensar na fonte de sais minerais e outras substâncias químicas que ingerimos no café da manhã, no almoço, no lanche, nos sucos etc. ao longo de todo o dia. Pergunte: precisamos de mais sais minerais oriundos de bebidas isotônicas? Como o nosso corpo reage aos excessos de alguns sais?
Primeiramente, devemos pensar que os sais que naturalmente ingerimos precisam da água para dissolvê-los dentro do organismo. Imagine a sede após comer um bacalhau. Precisamos de muita água para a dissolução do sal contido no peixe.
Um sal de cloreto de sódio, por exemplo, quando em água, tem seus inúmeros íons de sódio e de cloreto separados. A separação ocorre devido às moléculas de água com seu lado negativo, lado do átomo O (oxigênio) atrair o lado positivo do cristal iônico, que é o sódio. Várias moléculas de água ficam ao redor de cada íon sódio, mantendo-o separado do cloreto.
Já o lado positivo da molécula da água, o lado dos hidrogênios, se aproxima do íon negativo, o cloreto, e várias moléculas de água ficam ao seu redor, impedindo-o de se aproximar do sódio. Os íons tentam se aproximar, mas a água não permite. Daí a dissolução do sal. Essas moléculas de água ao redor de cada íon formam as coroas de solvatação. Para cada íon são várias moléculas de água. Se ingerirmos muitas bebidas carregadas de sais somados aos sais provenientes da nossa alimentação, quem vai solvatar os íons? Precisaremos de mais água para que essa possa fazer a coroa de solvatação ao redor dos íons afinal, somente solvatados vão entrar na corrente sanguínea para serem distribuídos pelas células, portanto, a água dissolve os sais antes que estes retirem água do próprio corpo humano.
Naturalmente, por meio da alimentação, já temos os sais necessários para o organismo e, mesmo perdendo sais e água em atividades físicas através da pele, no suor, notamos que a própria água de torneira ou mineral, com a presença de muitas substâncias químicas, é capaz de repor as necessidades corpóreas.
Em caso de uma grave desidratação, perda de muita água e sais minerais, é necessária a orientação médica para saber qual a melhor maneira de repor e controlar a desidratação de forma rápida e eficaz.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

"Educar é apresentar a vida e não dizer como viver" Rosely Sayão

Rosely Sayão: “Educar é apresentar a vida e não dizer como viver”
A psicóloga, que acaba de lançar o livro 'Educação sem blá-blá-blá', fala sobre a importância das relações familiares e escolares para uma educação para o mundo
THAIS PAIVA
Educar não é fácil, muito menos nos tempos atuais. A sociedade tem passado por muitas transformações, e os pais se veem, tantas vezes, completamente perdidos. É o que evidencia a psicóloga Rosely Sayão em seu recém-lançado livro Educação sem blá-blá-blá (Ed. Três Estrelas, 2016).
Mas por que pais e professores estão tão perdidos? Para começar, diz a especialista, complicamos o que é muito simples e simplificamos o que tem grande complexidade. E, para completar, somos muito egoístas. “Não queremos elas [as crianças] sofram, como se fosse possível evitar que isso ocorra, não queremos sofrer com a dor delas, não queremos que elas vivenciem frustrações, não queremos que sejam excluídas de grupos sociais. Para nós, o que conta são esses nossos sentimentos, mesmo que, para elas, passar por todas essas experiências “negativas” seja algo muito benéfico”, explica na introdução da obra.
Em conversa com Carta Educação, Rosely falou sobre os principais temas abordados no livro como a relação entre família e escola, a dificuldade dos pais de dizer “não”, como apresentar a tecnologia às crianças, entre outros assuntos essenciais para um convívio familiar e escolar mais saudável.
Carta Educação: O mundo tem passado por muitas transformações em um espaço de tempo relativamente pequeno. A educação vem acompanhando essas mudanças? Quais são os ensinamentos de nossos avós, pais ainda pertinentes e quais aqueles que precisam ser revisados?
Rosely Sayão: Os ensinamentos que precisamos manter são aqueles gerais, relacionados aos princípios e valores. Independentemente das mudanças que ocorreram no mundo, do estilo de vida que as crianças e jovens levam hoje, é preciso ensiná-los a ser honesto, ético, justo, respeitar o outro. O que muda é a maneira de ensinar: acho que hoje a mediação funciona bem. Então usar um filme para discutir uma determinada situação ou uma notícia que está tendo repercussão nas mídias pode ser um ponto de partida para conversar sobre os temas. Antes os pais só mandavam, era “faça isso, não faça aquilo, isso pode, aquilo não”. Hoje, deve haver a conversa junto com a atitude. Não é só conversa também, são os dois juntos.
CE: No seu livro, a senhora fala em crise da autoridade dos pais e como isso tem dificultado a relação deles com os filhos. Poderia explicar melhor?
RS: A crise da autoridade começou faz tempo, mas estamos vendo os efeitos disso na educação só agora. E não é só a autoridade dos pais que está sendo contestada, é geral. Se analisarmos o nosso panorama político nas últimas décadas, percebemos que nem as autoridades políticas são respeitadas mais. Em relação aos pais, dizer não para o filho é apresentar a vida como ela é e essa é a dificuldade dos pais, pois eles querem criar um mundo perfeito para seus filhos, só que esse mundo não existe. Mas educar é isso: apresentar a vida e não dizer como viver.
CE: Por que é tão difícil dizer “não”?
RS: Muitos pais me perguntam isso, como dizer “não” ao filho, e eu viro e respondo: “Olha para ele e diz ‘não’”. A verdade é que os pais não querem bancar o que vem depois do não. A birra, o choro, a revolta. Mas tem de bancar, pois é função dos pais fazer com que a criança faça aquilo que é bom para ela. Porque isso ela não sabe, a criança só sabe o que ela gosta e não gosta.
CE: Muitos pais têm sobrecarregado seus filhos com atividades extraclasse na ânsia de moldá-los dentro do currículo perfeito desde muito cedo. Como a senhora enxerga essa tendência?
RS: O individualismo e a competição estão no seu auge em paralelo com o poder de consumo. Há uma geração educada dessa maneira e percebe-se que isso não está ajudando a melhorar o mundo, pelo contrário. Então está na hora de a gente repensar isso tudo. Se o mundo ensina a gente a ser competitivo, a gente tem que dar uma vacina para nosso filho, isto é, ensinar a ser cooperativo. O mundo ensina que é importante consumir, tenho que dar a vacina e mostrar que pode-se consumir de maneira crítica. Isso que é importante e não ensinar mais do mesmo. Se o mundo já ensina isso, a gente não precisa ensinar de novo.
CE: A senhora também defende que a relação entre família e escola deva ser, em certa medida, conflitante para que a criança tenha duas perspectivas de mundo. Como assim?
RS: Uma é a perspectiva de mundo segundo a família, que é uma perspectiva privada, recheada muitas vezes de preconceitos, pré-julgamentos, convicções. E a escola deveria oferecer para o alunado a visão de mundo na perspectiva do conhecimento. Assim, o aluno pode olhar para aquilo que ele aprendeu com os pais e pensar criticamente a respeito. Se não o mundo nunca muda, os filhos vão repetir os pais e pronto. Então quando eu vejo famílias procurando escolas que falam a mesma linguagem que eles, eu ficou um pouco assustada porque é colocar a criança sob a ditadura de um pensamento único.
CE: Falando nisso, qual sua opinião sobre o projeto Escola Sem Partido que quer tipificar e punir o assédio ideológico nas escolas?
RS: Tudo que acontece na escola é político, é que nós achamos que política é sempre partidária. Toda escola é obrigada a ter um projeto político-pedagógico, esse é o nome. O que significa esse político? O tipo de cidadão que nós queremos formar. A gente quer formar um cidadão consciente, crítico ou um cidadão que aceita tudo que dizem para ele? Eu li alguma coisa sobre o Escola Sem Partido e não entendi porque para mim pareceu que o projeto busca negar uma determinada ideologia, mas não outras. Não há neutralidade nem na ciência, ao ler um texto científico, eu interpreto segundo meu referencial ético, moral. Então não existe escola sem política. Sem partido, até pode ser, mas não é isso que esse movimento prega.
CE: A relação família-escola está fadada a ser tensa?
RS: Não necessariamente, está fadada a ser conflituosa. Em nosso País, temos uma imagem pejorativa dessa palavra. Mas o conflito é sempre muito positivo, porque permite que visões diferentes encontrem diálogo e possam assim modificar um ao outro. Para nós, hoje, resolver conflito significa confrontar. Conflito não é convencer o outro da minha visão, mas também entender a postura, visão do outro.
CE: Deve haver diferenças entre educar meninos e meninas?
RS: Tem diferença entre educar um filho e outro, entre educar Maria e Mariana. Cada filho é único e a gente vai aprendendo na trajetória a conhecê-lo, que ele não é do jeito que a gente queria que fosse, etc. Então educar meninos é diferente de educar meninas, sim, mas não no sentido dos preconceitos e dos estereótipos de gênero. Mais no sentido de que educar cada filho é diferente. Eu conheci uma mãe que me disse uma frase que me fez pensar muito. Ela disse assim: “A maior injustiça que eu posso cometer com meus filhos é tratá-los da mesma maneira”.
CE: Como a tecnologia deve ser inserida no cotidiano da criança? Quais são os limites?
RS: É bom lembrar que a televisão já foi usada como babá eletrônica. Os pais quando precisavam de um pouco de sossego ligavam a TV e as crianças ficavam lá encantadas. A grande vantagem do tablet é que agora dá para fazer isso fora de casa, de qualquer lugar. Eu vejo muito em restaurante, a família almoçando e a criança lá no tablet. Hoje, nós temos muitas pesquisas que são conflitantes entre si, estudo falando que é bom apresentar cedo, outro falando que prejudica.
Eu diria que o bom senso ajuda. Se você der um tablet ou um celular para uma criança com menos de 6 anos, ele vai ver aquilo como um brinquedo, mas é um brinquedo que não vai estimular a criatividade dela em nada. Usar um recurso tecnológico para a criança ficar quietinha não vale a pena. A partir dos 7 anos, acho que dá para usar muitos recursos interessantes, mas a gente não pode esquecer que a infância – que vai mais ou menos até os 12 anos – deve ser usada para a criança explorar o mundo em todas as suas possibilidades. Então se ela ficar o dia todo só empinando pipa não vai ser legal porque vai perder outras oportunidades. O mesmo vale para um recurso tecnológico.


  Professora lista 5 dicas para não se perder na hora de estudar atualidades Querer estudar cada desdobramento de cada grande acontecimento ...